quinta-feira, 25 de junho de 2009

NÊGA

Essa poesia é de um moço muito firmeza chamado Vagner, que mora aqui na Brasilândia. A poesia é pra mãe dele, e coisa mais linda é ver ele recitando, pra ela. Quem quiser correr esse risco que venha participar do Sarau da Brasa.
Lá vai:



Nega, levanta pra acordar o dia nega,
Levanta, pois é com sua força que o seus vão trabalhar.

Nega, levanta e faz oração para o seu santo nega,
E pede por esse seu filho que já não sabe mais rezar.

Nega, levanta pega a bacia de roupa suja e vai para o terreiro nega,
Mas levanta poeira do chão se aqui alguém não te respeitar.

Nega, levanta e aconchega a criança no seu seio nega,
Canta pra ela a canção que tu me cantava e eu não sei mais cantar.

Nega, levanta e ginga esse seu corpo cheiroso nega,
Levanta a barra da saia, entra na roda e me ensina a sambar.

Nega, levanta porque agora você não é mais a moreninha nega,
Levanta seu cabelo crespo porque assim natural ele me faz delirar.

Nega, levanta porque tu és preta guerreira nega,
Levanta teu punho pro céu e grita bem alto que aqui ninguém mais vai te escravizar.


(Vagner)

segunda-feira, 15 de junho de 2009

A Bicicleta

Candeias nasceu Antonio Luiz, nos longínquos Minas Gerais. Andava pela rua de terra descalço, por que desconhecia sapato. Na cama que dormia havia mais alguns irmãos. Hoje eu pego em suas mãos, e peço bença. Ontem era eu as nuvens lá em cima querendo existir, os passos na roça caminhavam até aqui. Pois bem, como é sabido de cada um de nós a gente tem sonhos, e o desse menino, o Antônio, era ter uma bicicleta. Havia um negócio que sei lá, queria era deslizar pelas ruas e fugir do padre, da mãe parideira. Queria uma bicicleta e dentro da cachola cheia de cachos pediu pra Deus - isso mesmo, ousou fazer um desafio: você me dá uma bicicleta, senão docê eu desacredito. Passou ano e depois mais ano. Passaram. Os cabelos mais pixaim ficavam, nascia cabelo debaixo do braço e em partes que agora eu não vou citar. A bicicleta no sonho, e Deus desditoso negava um pedido tão ferroso. O menino cresceu e foi morar num lugar longe dos seus, um lugar do sertão chamado Montes Claros. Lá fez a última prece, porque tinha raiz forte no chão. Olhou em volta e se percebeu. Tanto menino sem bicicleta. Tanto menino sem bicicleta. Cuspiu no chão e enterrou, se Deus existe porque castiga os sem-amor? Quanta comida sem prato apodrece nos finos banquetes, e a cuíca ronca nos cantos de pau-a-pique sem cor? O menino fugiu e fez a sua vida que até aqui é bem cumprida, arrastou seus olhos por todo esse país e mais. Hoje eu ando na minha bicicleta com gosto, dada por meu pai, mas até hoje não me esqueci. E custo acreditar em Deus.

sábado, 6 de junho de 2009

FechÔ!

Outra coisa também que a gente tá em greve de blog mas não tá panguando. Eu e mano Réu, do coletivo Literatura Suburbana estamos preparando e dando os toques finais na nossa parceria de escrever um livro. Sim! Tudo começou quando os meninos fizeram um projeto pro VAI e ganharam. Os livros que vão sair dessa leva vão ser trabalhados em algumas escolas daqui da Zona Norte, em oficinas de literatura e sarais. Mano Réu me chamou e pronto: vamos dividir os textos e fiz também as ilustrações (e foi um trampo descobrir com o desenho onde a minha estrada e a do Réu foram se juntando, por caminhos tão diferentes). Fiquei orgulhosa do baguio, quando sair da fornalha eu dou um toque, povo.








Poetas Lascados


He poeta do gueto
Lascado por nascimento,
Jogado ao relento,
Pois os sarais bons estão concentrados
No centro,
Até que a academia diga ao contrario.
Ouvi dizer que
Idéia é a prova de bala.
Que essa merda de poema não valha nada,
Mas isso não é apenas um jogo de palavras
E sim a jornada dos poetas suburbanos
No jogo da vida.
Nossa publicação pode ser até tosca,
Mas é verdadeira.
Vendida em bares e lugares
Ruas para rappers e reperos
Nordestinos, pretos, brancos.
E por todo o gueto.
He, Poeta do Gueto,
Seu salário é o aplauso ralo
De uma platéia
Que me Ouve
E as vezes nem me entende!!!


(Mano Réu!)

Protesto

Andam tirando meu couro...

estou em greve de lida, de escrita
e de vida.

Andam tirando meu couro...