segunda-feira, 12 de julho de 2010

Carta a um Amor

   Nego meu, hoje amanheceu escuro, do lado de cá. Tenho prontas-visões do que intuí. Mas muito não sei não. Adverti quem aqui mora, é tempo de esperar, évem a chuva. Cairá na calha trazendo de tudo que se acumula na estação. Galhinhos, folhas, bichos mortos. O chão fica sujo, mas eu não acho sujo não. Começo a divisar a matéria podre, eu gosto. Hoje mesmo, fiquei de admirar os mofos crescendo de tanta umidade. Homem, como pode um negócio tão ralo, tão pouco, ir subindo e fazendo essa engenharia rasteira, lá no meio do vértice onde ponteia o quarto todo? E quando esverdeia o pão, todo nosso apetite de amor? Bolor que o povo cá chama, embolorou, emboloiou, emborolou. Palavras bonitas, deviam ficar na gente feito música de refrão. Ôi, meu bem. Como se entende daí? Queria, em tua pele, fazer desenhos como agora, visse, eu passando o dedo aqui nas prateleiras. O dedo engomadinho de pó, eu tirando sua saudade. Nego, ôi. Manda os ponteios dos seus lápis pra cá, aqui vou recolher, ficar quietinha. 

É por causa que intuí, évem os escuros do céu.

2 comentários:

Fabi disse...

é a chuva,

sinal da primavera!

Anônimo disse...

que lindo.