Bom, já que ninguém, lê isso aqui vou escrever a torto e direito. Em meados de 2012 (até antes) iniciei a gestação de uma idéia, surgida quando o Sarau do Binho e outros movimentos começaram a sofrer ameaças justificadas por uma burocracia manipulada, que arrota alvarás e reintegrações de posse. Fardas e ternos se escondendo atrás de papéis. Binho gritava, na época: "Quem deu o alvará de funcionamento do Brasil?". Eu pergunto, cara-pálida.
Meu processo se iniciou pela busca de entender o papel-documento. Nasceu também de um grito: a "revolução" é feita de quantos papéis, de quantas posses e Constituições? Quem são as vozes por trás de um Registro Geral? Qual é o tom de azul da Pessoa Física por trás do Cadastro? Um dia desses fui ao Poupatempo refazer meu RG, e fiquei maravilhada. Milhares de carimbos e máquinas plastificadoras, cidadãos encarrilhados em filas homéricas, relógios, senhas fazendo tum-dum brilhando vermelhas. Poupar o tempo. O tempo que corre. O documento no bolso que te pergunta: quem é você e quem sou eu por trás desse pedaço de papel? Que é a história da burocracia? Onde encontro resquícios de Lamarck, Lombroso, positivismo e democracia, racismo e filhadaputisse? Pergunto ironicamente: "Que documento você precisa para mudar sua realidade? Vamos poupar o seu tempo, se é a questão".
O projeto do Poupatempo é eminentemente ativo. O "usuário" (para usar o termo de repartição) usa sua imaginação para me propor a criação de um documento. Já surgiram atestados os mais diversos, reintegração de posse, alforrias, crachás, inventário, green card, certidões de nascimento, liberdade condicional... todas adulteradas em seu teor. O Poupatempo não cria nada, apenas executa. Deixa aparecer desejos. Começo então a pesquisa, chafurdando carteiras e cartórios, delegacias e armários velhos. Envelheço papéis. Forjo carimbos. Fico enfurnada ali, num trabalho árduo e manual. Meticulosamente, microscopicamente copiando cada fonte, traço, matiz. Abomino o uso de réguas mas busco a linha reta. A falsificação dura dias, não é útil. É um gesto vazio pois copia incansavelmente sem atingir sucesso. O documento forjado está fora de circulação: é visivelmente impróprio para o que almeja. É autoral e contêm erros. É único, não reprodutível e mesmo assim de uma disciplina e controle motoro impressionantes. É a mão quase a ponto de máquina. Mas feito imperfeito, traço a traço. A cópia inútil vai pelo correio, buscando marcar trajetos, endereços, geografias. Achar o seu dono. Alguém, que ganha uma alforria. Alguém, que desejou uma certidão de nascimento menos parda. Inventamos micro-estórias.
Aqui vão alguns estudos e processos. Logo menos vão mais fotos (como péssima empreendedora que sou, esqueço de registrar as obras no momento que devo, mas belê, estou ficando boa nisso):
Feito em Photoshop, estudo para a alforria do Perê. O "dono" é o ex-secretário dos Transportes de São Paulo. |
Estudo para CPF, ainda com a mão bem solta. |
Estudo para RG. |
Declaração para Bruno Pastore. |
Estudo para Green Card, para meu amigo de escola que hoje em dia mora no Japão. |
Aquarelando meu próprio Registro Geral... em processo. |
Para fazer pedidos, escreva contando seu pedido e todos os dados necessários, o Poupatempo agradece!
paracarolzinha@gmail.com