sábado, 11 de março de 2017

Golinhos de leite

Tristeza se dissolve.
Em golinhos de leite em
Passos miúdos em
Quanto se lava a louça em
Potes de miragens
Deve ser confete
Asfalto é piche que esfriou
A nuvem passou aguada
Essa lágrima memória
Nó do foninho que não deixa ouvir a música, hein?
Meu corpo de febre
Tristeza dissolve.
Dissolve não.



quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Pequenas lições de desenho.


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Quando eu era criança meus pais iam trabalhar e eu ficava na casa dela. Tinha medo no começo porque ela chegou do nada na rua da minha infância, com uma roupa muito asseada e um coque no cabelo. A pele preta, a casa nova enfeitada de crochê porque tinha acabado de casar. O chão de terra do quintal subia pelos joelhos, latinhas prateadas empilhadas eram as bonecas, formigas e vidros quebrados no piche. O fora só imensidão, mas eu gostava quando o telefone tocava e ela atendia. Ficava falando com a pessoa invisível do outro lado, rabiscando no bloquinho de notas com caneta bic.
Desenhava gaivotas de risquinhos. O Mar. E uma árvore estranha com escamas no tronco, folhas-peixe e bolotas de saudade penduradas. "Que árvore é essa?"
"Chama-se coqueiro".
Ficava olhando essa mulher enigma. Os rabiscos que fazia me davam notícia de um mundo de longe que eu só imaginava, vapor de cores na sola do pé.
Coqueiro.
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Desenho forasteiro de mim.

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Resenha 2


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Sempre que as borboletas amarelas aparecem é sinal do amor que dança fluorescente fantástico. Mas nunca chegam no final do romance. A borboleta amarela se assusta quando tentam agarrá-la e voa entrando na mata, no coração da América do Sul.
Temos que nos contentar porque duram até o final do romance os casais das dentaduras de duas solidões arranjadas pelo espírito santo amém.

Resenha 1


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Depois que saiu da cartomante foi atropelada. Uma cabeça de alfinete é exatamente uma cabeça de alfinete. Bebeu o mar. Experimentou uma coragem.
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- Ser feliz é pra conseguir o quê?

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Coisas que a Vó Maria me ensinou existindo:
1- segurar a mão de quem morre.
2- segurar os pés de quem nasce.
3- matar uma galinha sem sentir pena senão demora mais, e afinal, as crianças precisam comer. Já viu horror de prato vazio?
(Não bambeia. É sangue).