segunda-feira, 9 de junho de 2008
A Carta da Beatriz
Sempre fui tirado
a ler e escrever poesia.
E desde mulecotinho
pegava a caneta e escrevia.
Mas saia cada tosqueira
que parecia o cú da gia.
Os meninos da minha classe
me ensentivavam a escrever.
Gostavam das sacanagens
que eu insistia em escrever.
E pedia rimas novas
pro gererê-gererê.
Mas o que eu quero relatar
é uma passagem engraçada
que aconteceu comigo
qundo arrumei namorada.
Já namorava ela à meses,
e ela sem saber de nada.
Até hoje me lembro
o jeitinho da infeliz.
Branquinha, cabelos negros...
e se chamava Beatriz.
Fiquei caidinho de cara,
mas ela nunca me quis.
E nessa gastura louca,
eu esperava na esquina.
E na hora do recreio
pagava doce na cantina.
Ela pegava o mimo
e ia lá comer com as meninas.
E eu todo acabrunhado
pedia a Deus: "Por favor...
o que eu faço pra sair
dessa agônia que eu tô?"
E uma voz retumbou alto:
"Escreva uma carta de amor!"
Então escrevi a carta
com rimas e mil floreios.
Mas como entregar a bicha?
Naquele tempo não tinha e-mail.
Então fiquei esperando
a dita hora do recreio.
E quando tocou a sineta
e saiu toda a galera
me esgueirei pelas carteiras...
deixei a carta nas coisas dela.
Mas confundi as mesinhas
e deixei nas coisas da Marcela.
Marcela era a garota espinhenta
chata, fofoqueira e falsa.
Toda sala tem uma assim;
que na de todos imbaça.
E sempre que tinha prova,
ela mijava nas calças.
Então fui curtir o intervalo
com toda animação.
Louco pra ver Beatriz
e a sua reação.
Agora, imagine a minha
quando vi a Marcela
com minha carta na mão.
Quando vi aquela cena
logo pensei: "Fudeu!"
Marcela mostrava pra todos
e falava quem remeteu.
E a escola toda aclamava
que o namorado dela era eu.
Depois de anos passados,
adotei o estilo Calígula.
E quando quero uma mulher
não ponho ponto nem virgula.
E concordo com Pessoa
que todas as cartas de amor
são ridiculas.
(As quais ainda insisto em escrever...)
O Augusto
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