domingo, 22 de março de 2009

Divinéia (poema do Akins)

Continuando as cantorias pra Zona Norte, achei esse poema lá em casa
que homenageia a Divinéia...

"Humildemente meu sentimento
de quem foi maltratado pela vida
e dos venenos feito
se possível a licença de lembra os detento

não por nada, sou nada se for cada um no seu cada
palavras boas ouvi do fininho e do Ada,
a liberdade dos meninos tarda, sorri os de farda
Milhares são as baixas, as tias manifestam queimam pneu põe faixa.

os muleke tocam caixa, vão pro tudo se não der racha,
mais relaxa só! Carnaval, três de dias de noite de suor,
esquecendo a neuroze do mocó, ó gingado da porta bandeira
vai acompanhado não só, força pra trincheira,

no zirigdum da segunda com a terceira, samba não acaba quarta feira
terças e quintas se tem dor traga, foge as pragas bate o repenique
e afogue as magoas, dessa fonte inajar beba da água
Pura feita, Maria-louca de acordes, vinda do peito voz roucas os pagodes
bandolins e toque os tamborins, deixe que as cuícas chorem por mim,
e descarga toda, essa vida amarga.

Que traz esses olhos tristes, que resiste, o choro acumulado
Que um par de anos insiste, em ter um fim, sim, sim, sim
calor e eloqüência, e um belo sorriso
nos olhos das crianças sinto cadencia, é o que eu preciso

tenho paciência, caminho com eficiência aprendo mais vivência,
com nego véio e as coroas, nesses becos sujos um pa de gente boa,
na humilde a gente chega, qualquer viela, um beijão pro dega
no barraco da dona istela, ei to! num to atoa na minha ideia
se o bloco é inajar o terreiro é divineia
Os batuques, devoção meu poema traz axé, se der inajar.

Num deu zebra, deu jacaré, e um a par de leão, pode bota fé
Jão! Leal tipo nos campos vestindo preto e branco, sou franco
E os treinos foram os trancos e barrancos, cos traumas e malicia
Aprendemo olhar frio os carros da policia
O humilde sentimento que proponho
Que esses fila da puta num acabe com esse sonho
Os que atrasa nois gruda, brasa se bagunça a casa.

Buda! Se nois num se ajuda deus nos acuda
E abra vala, se o caminho é aberto à bala.
Entristece as alas, endurece o mestre-sala,
Até us mais ruim sei que a dor entala
Maltrata corrói se pá, o peito de qualquer.

Brilho meu zói, a bandeira do inajar,
nos braços daquela mulher, e as ruas estreitas
meu coração laça, meus olhos na espreita
de um viver melhor é taça
ai cobre nosso semblante de sarro
quando não vestirmos o sufocante barro
o tamborim toca lá no coração
sei que divinéia é favela em ação
as inspirações vem de lá, de cada um sofredor
quem faz com amor já é vencedor"

Akins Kinte

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