Denis me propôs responder a essa pergunta, como parte de um trabalho que ele está fazendo. Foi bão pensar sobre isso, então lá vai:
O acesso ao mundo codificado da arte sempre foi para poucos senhores, com H maiúsculo. Durante muito tempo e gerando nosso tempo, se tornou muro com arame farpado. A caixa fina da arte bem guardada ali e o mimeógrafo caindo aos pedaços aqui. Escola pública? Arte não entra ou explode em palavras violentas pelas paredes, escritas em giz, vela e spray? A inclusão é palavra perigosa, prefiro uma outra mais arriscada e cheia de curvas, chamada construção. Incluir supõe sistema fechado, abrindo uma porta lá nos fundos, ingrata. Porta dos fundos que, depois da jornada de trabalho e com um salário furreco nas mãos, se é permitido sair após limpar todos os cômodos e abrir todas as janelas abafadas do apartamento da arte contemporânea. Inclusão caiu na boca do povo, muitas vezes apenas como palavra morta que revive em muitas ações diversas. Tem coisa boa e viva nesse balaio, tem xeque-mate de organizações e governos carcomidos. Eu mesma sei que hoje ainda se faz a inclusão das mulheres no circuito da arte, desde que formalmente continuem em seu lugar. As mulheres aparecem, mas seu mundo subjetivo (e digo isso não a favor de uma essência, mas de uma vivência de opressão compartilhada) é feio. Como compreender esteticamente algo que foge da organização das imagens do mundo construído meticulosamente pelos cara-pálida? Inclusão social pra mim cheira perigo, com tudo que meus olhos já viram nesse jogo político que é a cultura. Construção nunca vem separada da educação, e se torna terreno aberto para crescer em palavra, domínio da própria história e desenvolvimento de um sistema estético vivo. Isso supõe, muitas vezes, retirar de anos e anos de mofo e poeira um indício do que seja nossa linhagem. Supõe um olhar, menos afeito a ligar os pontinhos de um desenho que alguém já planejou. A arte é motor de reconstrução de muitas vidas, como tomada de posse dessa rede delicada que une sentir e pensar, que une colecionar e organizar um mundo, cheirar e modificar a matéria. Muitas vezes coloca o arroz e feijão no prato, na maioria "apenas" coloca óleo na ferrugem dos dias. Cabe saber onde pisar nesse mundo exaurido, que diálogo estabelecer.
Qual é a igualdade da troca?
Aí Denis, qualquer coisa grita...
Bom, meu nome é Carolzinha Teixeira, tenho 26 anos e meu trabalho, ainda no começo da jornada, é baseado na pesquisa da história das pintoras no Brasil. No momento pinto em lonas recortadas e proponho instalações nos locais de exposição. As imagens propostas retomam arquétipos de uma história dizimada. Retiro o projeto das imagens de sonhos, conversas e da literatura.
2 comentários:
observou e definiu perfeitamente a distinção das palavras inclusão e construção.
do caralho tua resposta-pensamento sobre o tema!
beijos
fôlego-raça!
gostei da escrita, minina, unindo ação ao sentimento e pensamento, como dizia o poeta...
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