sábado, 14 de fevereiro de 2009

Meio-tom

Era um dia cinza de São Paulo, cinza mesmo, meio-tom de céu destoando da arruaça que movimenta o Centro. Liguei pra ele me acompanhar, que sozinha ia ser ruim demais. Fazer correria, andar que nem formiga nessa cidade fria. Fomos meio assim atrasados, a chuvinha fina ia comendo o resto de quentinho da blusa, mal cabíamos no guarda-chuva de bolinhas. Rua Direita, Largo São Bento, do Paissandu, Santa Efigênia. Moço que canta, moço que faz embaixadinhas, moço que tá no trecho e chora... chora. Buscamos o preço que posso pagar, buscamos um teto pra fugir da ventania, buscamos conversar nessa barulheira. Zanzada, zonzeira, a fome aperta: É um e noventa, é dois e cinqüenta. A bixiga também pede, no meio da rua comercial. E no meio desse fuzuê meu mundo pára pra ouvir o carinho, voltando meus ouvidos prum ninho perdido... Ninguém que passava na Praça da Sé parou, nem o corneteiro, nem o camelô.

- Vamos procurar um lugar limpinho (disse ele cafunezando os meus cabelos).

O tempo estancou, parou de correr aflito pra estalar num beijo gostchoso.

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