quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Poupatempo


Bom, já que ninguém, lê isso aqui vou escrever a torto e direito. Em meados de 2012 (até antes) iniciei a gestação de uma idéia, surgida quando o Sarau do Binho e outros movimentos começaram a sofrer ameaças justificadas por uma burocracia manipulada, que arrota alvarás e reintegrações de posse. Fardas e ternos se escondendo atrás de papéis. Binho gritava, na época: "Quem deu o alvará de funcionamento do Brasil?". Eu pergunto, cara-pálida.

Meu processo se iniciou pela busca de entender o papel-documento. Nasceu também de um grito: a "revolução" é feita de quantos papéis, de quantas posses e Constituições? Quem são as vozes por trás de um Registro Geral? Qual é o tom de azul da Pessoa Física por trás do Cadastro? Um dia desses fui ao Poupatempo refazer meu RG, e fiquei maravilhada. Milhares de carimbos e máquinas plastificadoras, cidadãos encarrilhados em filas homéricas, relógios, senhas fazendo tum-dum brilhando vermelhas. Poupar o tempo. O tempo que corre. O documento no bolso que te pergunta: quem é você e quem sou eu por trás desse pedaço de papel? Que é a história da burocracia? Onde encontro resquícios de Lamarck, Lombroso, positivismo e democracia, racismo e filhadaputisse? Pergunto ironicamente: "Que documento você precisa para mudar sua realidade? Vamos poupar o seu tempo, se é a questão".

O projeto do Poupatempo é eminentemente ativo. O "usuário" (para usar o termo de repartição) usa sua imaginação para me propor a criação de um documento. Já surgiram atestados os mais diversos, reintegração de posse, alforrias, crachás, inventário, green card, certidões de nascimento, liberdade condicional... todas adulteradas em seu teor. O Poupatempo não cria nada, apenas executa. Deixa aparecer desejos. Começo então a pesquisa, chafurdando carteiras e cartórios, delegacias e armários velhos. Envelheço papéis. Forjo carimbos. Fico enfurnada ali, num trabalho árduo e manual. Meticulosamente, microscopicamente copiando cada fonte, traço, matiz. Abomino o uso de réguas mas busco a linha reta. A falsificação dura dias, não é útil. É um gesto vazio pois copia incansavelmente sem atingir sucesso. O documento forjado está fora de circulação: é visivelmente impróprio para o que almeja. É autoral e contêm erros. É único, não reprodutível e mesmo assim de uma disciplina e controle motoro impressionantes. É a mão quase a ponto de máquina. Mas feito imperfeito, traço a traço. A cópia inútil vai pelo correio, buscando marcar trajetos, endereços, geografias. Achar o seu dono. Alguém, que ganha uma alforria. Alguém, que desejou uma certidão de nascimento menos parda. Inventamos micro-estórias.

Aqui vão alguns estudos e processos. Logo menos vão mais fotos (como péssima empreendedora que sou, esqueço de registrar as obras no momento que devo, mas belê, estou ficando boa nisso):

Feito em Photoshop, estudo para a alforria do Perê. O "dono" é o ex-secretário dos Transportes de São Paulo. 

Estudo para CPF, ainda com a mão bem solta.

Estudo para RG.

Declaração para Bruno Pastore.

Estudo para Green Card, para meu amigo de escola que hoje em dia mora no Japão.

Aquarelando meu próprio Registro Geral... em processo.



Para fazer pedidos, escreva contando seu pedido e todos os dados necessários, o Poupatempo agradece!

paracarolzinha@gmail.com