terça-feira, 4 de junho de 2013

Tortuoso

Sangra como a veia aberta e gera. 
O desenho eminentemente, gera. 

  É um esporo, uma fresta, o respiro antes do pulo do gato, uma guerra. Enquanto articulação visível, pode morar debaixo da terra anos a fio até brotar. De um desenho saem miríades de brotos e desses brotos outra cena. Por isso fico puta quando me dizem que o desenho que faço é simples. Gosto dessa palavra, mas quando estão todos os pingos nos "is" colocados. Porque se aventurar na busca do próprio traço nunca foi questão só de espontaneidade pura, mas uma labuta constante de pensar e repensar uma poética que construo, e que no caso do desenho quer explodir com todas as forças o olhar cartesiano. 
  Um dia conversando com Ganu falávamos de como o desenho é uma busca de equilíbrio entre forças apaziguadoras e a destruição. 
  Não se contentar com o exato, com o bonito embalado à vácuo, com palavras de ordem forjadas e vazias de significado vital. Não terminar um desenho, não cair no preciosismo, no adorno e na forma naturalista sempre foi questão primeira pra mim. 
  O traço que liberta o olho para a porosidade do papel vai mais de encontro ao olhar do Outro que vê, do que uma imagem autoritária: "Isso é Belo, como você não está vendo isso?". O desejo da destruição desse mundo que aí está não pode ir de encontro a imagens conciliadoras. 
  E continuo pensando enquanto errante: QUE IMAGENS GERAR? QUE IMAGENS GERAR? POR QUE AINDA CRIAR REPRESENTAÇÕES? QUE IMAGENS GERAR?