segunda-feira, 24 de setembro de 2007

...das crianças.


No colorido de seus sonhos o azul do céu sempre estava presente.
Dizia pra sua mãe, quando essa procurava um novo barraco pra morar, que o importante, era o tamanho do céu que a nova morada teria.
O tamanho do chão tanto fazia... até porque do chão de terra batida coberto de papelão não tinha como escapar, era assim e pronto. Sempre! Já o céu... Ah! O céu...
Quanto mais ladeira acima fosse, mais a menina gostava. Estaria mais perto da onde queria estar. Em corpo e sonhos.

Pequena que fosse, sabia encontrar a chuva antes dela virar desgraça.
Pequena que fosse, sabia quando era junho e julho. Ainda analfabeta aprendeu a ler o calendário pelos foguetes, balões e pipas.
Pequena que fosse, aprendeu o calendário lunar ... orientada pelos rasga-sacos, vira-latas e encoleirados da sua comunidade.

Quando sua mãe recebia doações que de porta em porta pedia no intervalo de suas faxinas, ela abria o saco ansiosa em busca de sapatos. Velhos, as vezes um pé só, outros que nem no pé de suas bonecas cabiam. Mas não se importava com o significado daquilo que a sociedade cheia de compaixão lhe doava, pois rapidamente o lixo deles virava mais um enfeite do céu de sua quebrada.
Arremessava para cima e nos fios, os sapatos enganchavam. Ela corria então para baixo do fio, e com o pescoço curvado em "180º" graus olhava o céu por baixo dos pisantes. Que bonito era o seu céu com fios, tênis amarrados no cadarço, fumaça, antenas, luzes e lajes.
Nos aviões, que os jornais tanto falavam, ela nunca pensou em estar dentro, muito menos em filas ficar. Eles eram também adorno do que na vida, pequena que fosse, tinha escolhido como paisagem.
Do céu e seus enfeites aprendeu a amar a rua/lua e o brinquedo/vento.

De ET's e Ovnis, pouco sabia. Medo? Que medo...
Ela só tinha medo de uma coisa, que os pipocos secos que davam, pro alto, pro lado, pro barraco, pro outro, lá abrissem buracos. Mas depois do estouro, procurava os rombos em cima de sua cabeça, e não encontrava. Nem as balas podia atingi-lo. E quando seu pai foi achado por uma bala que um homem de cinza soltou, aprendeu que na verdade uma nova estrela o céu
ganhava.
Essa segredo foi com São Jorge que ela compartilhou...

(Bia Cactus)

Um comentário:

Anônimo disse...

coisa bonita hein bia?
gente do céu!!!