quinta-feira, 13 de março de 2008

Passarinho Aconselhou no Sonho

Hoje quando eu levantar terei calma para observar o dia que nasceu (que não é frio, quente, seco ou úmido). É um dia feito, completo, com nuvens e sol, com chuva, com vento.

Se tudo continuar o que foi pendurado ontem, cada pessoa vai se levantar, tomar café (ou não) e sair (ou não). Vai abrir as janelas, calçar as meias secas e reclamar. A matéria do que a gente fala é feito de minério vivo, dos nobres. Falar é muito difícil. Dizem que sobreviver é ter esperteza na ponta do nariz e óleo nas juntas. Amar é ter mel nos lábios, cuidar e querer bem com devoção.

Mas aí tem sempre aquelas coisas, uma bala de chumbo pesando embaixo da costela. Onde eu estou eu já não me equilibro, bambeio, fujo. As "opiniões" a gente faz com cinco olhos, trezentas nóias, um novelo de nó, breque de boi e lupa certeira. Pá! A opinião é um terraço muito horizontal, cheio de passarinhos e o canto deles, brisa e azul do céu: a gente chega lá, vai andando devagarzinho, senta, deita, enfia o pé na terra úmida e fecha os olhos. Opiniões.

De repente, a gente sabe: a opinião tá aqui e nossos olhos já correram muitas léguas pra frente, já sabem demais. Mas aí é que tá: isso que sabe não pode falar pra ninguém.

Hoje, quando acordar, vou pegar bastante terra com as mãos, amassar. Os olhos baixos, e lembrando que o importante é a terra, acima de tudo. Importante nessa vida é o que nela vive, todo mundo. É uma espécie de respeito, é quase um respeito. Tudo que é precipitado é cinza de cinzeiro, não foi e nem vai ser. O que alguém fala vai ficando, rola em cima da cabeça, bagunça tudo, macera, macera (penso,penso, vôo). Aí sim. Aí sim. Ué, mas o que eu tô falando é meu, eu que entornei. Eu mesma que posso fazer tanta alegria e merda: já fui rainha e plebéia.

As coisas do mundo, as peças. As sombras embaixo das pedras. Se a gente não ama como vai fazer? Hein? Meu truta? Como vai fazer? Dia nascendo, tudo corre, mas o grito atravessa até avenida. A vida é muito muito silenciosa. Queria que nada fosse frescura.

O dia nasce cheirando pólvora, que é pra gente nunca esquecer a guerra dos homens. Aqueles que ninguém ouviu. Povo bobo? Bobo é quem desacreditou, certo? O mundo é um redemoinho em todos os cantos, sangue no zói, então se segura na planta dos pés. Nunca se esqueça, aquela mistura de arroz e feijão. O mundo dos homens e das mulheres é um jogo de peças, é um labirinto, é um plano traçado, é um teatro de sombras?

Um comentário:

Anônimo disse...

Tenho tentado pescar o mundo como um jogo, não ao certo de peças, mas de táticas-tensas (sem qualificação, boas ou noiadas, apenas: tensas.). Quando o repelão na memória me estremece, brinco que: "the dreams is over, pero el surrealismo quedase en las calles!". Dou graças às idéias irmãs.
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