domingo, 15 de junho de 2008

Oi sim sim sim, Oi não não não

Na letra de lápis descanso a vista, sonhando com o seu horizonte. Já fui mulher feliz em outros rios. Já penei em chãos de areia, miguelagens de quem muito resfolega e desconversa. Mas eis que uma fagulha pipocou no céu e caiu no asfalto, trançando o meu e o seu passo. Pois bem, por bem, entrevi um laguinho com água fresca, de cimento sem reboco e uma florzinha. E ali todas as vozes queridas, e ali a brisa que balança a rede. Um beijo desses com vontade de comer goiabada e queijo, os momentos sem modos e sem educação, devorando tudo com gosto, entornando a sede. Cada tijolo encimando o outro, a malícia malandragem sem maldade que queima a vista. O mundo que você vai dedilhando assim, meu olho apequena. A rua já era sua sem licença, percorrendo com os pés descalços, batendo latas, batendo boca. O mundo é uma grande mistura, tem perigos. A morte entreolha nas brincadeiras de criança preta, nas quebradas das vias. Sério mesmo, coisa de homem. Comer marmita fria e desgosto de pobre. Sério é quando precisa ser homem, cuidar da cria. Quando é domingo a mente descansa e balança na rima, que engancha na batida. É o que você mais ama? Ritmo e Poesia. Mandamentos nobres. Pois é essa a ética, uma palavra forte não desmancha, representa na favela. É coisa que não se ouve na escola, é outra estória. É uma manha que cora o canto do olho sorrindo, é um sorriso que não aceita qualquer presente. Toma posse do meu carinho, confundindo a ponta dos meus dedos nos redemuinhos, de cabelo pixaim. É uma alegria que se joga, um tombo comemorado. Cuidado. Um sopro curando meus cortes. Alisando o dorso. Querendo abrir todas as portas do mistério, chamando ancestrais, subindo montes atrás das chaves. Coragem. A ti ofereço letras de lápis.

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