quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Dois peixes solúveis

... não é o medo da loucura que nos 
forçará a largar a bandeira da imaginação...
(André Breton)

Tenho nas mãos dois peixes solúveis. Olho pra um, que ganhei do poeta, e descanso jogando pro ar toda saudade, a quimera, a vontade de apelo. Avanço em braços e pernas, mas pra onde? Tudo o que tenho à frente é tudo o que tenho à frente. Muros de bolhas de sabão, onde se fizeram as últimas tentativas de guardar uma infância maldita. Fecha então sua porta de ferro, baleada de tampinhas de garrafa. Bebe os relógios, o cimento, os tijolos, tudo que te constrói e o outro peixe solúvel que tenho às mãos. São dezoito horas, fim do expediente. Já apaguei a última vela, nada resta. Olho pra ele que suspira, prateado. Pedaço de ferro mole, aguado. Pego o que consigo mas. Tudo o que tenho à frente é tudo o que tenho à frente.

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