sábado, 17 de dezembro de 2011

Pede infância

Então, estávamos caminhando pela horta. O olho já ia fustigado pelo calor, o desejo que eu ia invocando envergonhada era abrir aqueles cocos pendendo e chamando água. Dona Sulica, o peso do corpo e a voz leve. Com ela aprendi, que cada canto do terreno era uma saúde, uma saudade. O mapa eu fui aprendendo, até já ir segura no verde espalmado pro coração, pro verde estrelado de fígado. Na flor que cura ressaca. Sulica sofria pois um dia caiu em derrame. Toda tarde, vinha gente acudir um padecimento. Nós, bichos de farmácia, olhávamos com arregalo o espantoso toco da cauda de gambá, que virava cinza no defumador e empesteava a casa toda. Pajelança curava, devoção que a Dona Luiza parente jogava na casa ao lado.
Mas, enquanto a gente andava, ela me falava de uma planta só que não sabia causo. Foi parar ali de presente, uma comadre que veio de longe trouxe.

"Essa daqui eu não conheço não".

Pois era outra calma, a minha. Segura na palma da mão puxei da bolinha que estourou, como sempre faz. Como eu sabia que fazia, de tanto subir em pé, de manchar pra dois dias as unhas. De conhecer na língua aquela lá. Aquela, a amora.

"Dona Sulica, essa daqui se chama amora, lá em São Paulo tem demais, a gente come no pé andando na rua!"

Achei graça, da amora desconhecida. E orgulhosa que eu também sabia de uma planta, peguei as bolinhas crespas, fui catando e distribuindo pela casa, vendo espanto atrás de espanto. 

 "Ummmmm, delícia!". 


Fim da história, quem quiser que conte outra!

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