Andava devagar pela saída da escola com as veias palpitando de cansaço. Viria a noite depois, como sempre, secar a cor amarelada dessa tarde cachorra? Tanta coisa. Só não sabia a causa do cadeado repentino que ia trancando a língua, logo depois da prova de português. Questão um, letra bê. Palavra não mais falava, só se esquecia. Conseguiu quase entender o meio-fio, a lua da unha e a unha da lua. Pulou de uma pra outra. O Nome, os nomes já não anunciavam. Havia garganta para tatear e o sopro que dela avoa e respira. A pinça da vontade que vai coroando as frases também, quase dizia. Até buscava a letra, a liga. Puxava do avesso para lembrar as rodinhas do "esse", a volta do "gê". Não casava o desenho sem o som, destoavam solteiros. O mundo desnudo das palavras ia se estreitando nos olhos como exigência sem fundura. Coisa dura e aterrorizante. Gritou? O meio-fio entornou a faixa de pedestres e desapareceu. O último gesto ia desabando em foice no tempo. Esquecer as frases apagou o desconcerto, a melancolia e seu texto cinzento. Ela já não durava, lembrava manchas vagas onde não se reconheceu.
Só não fechou os olhos porque não existia.
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