segunda-feira, 15 de junho de 2009

A Bicicleta

Candeias nasceu Antonio Luiz, nos longínquos Minas Gerais. Andava pela rua de terra descalço, por que desconhecia sapato. Na cama que dormia havia mais alguns irmãos. Hoje eu pego em suas mãos, e peço bença. Ontem era eu as nuvens lá em cima querendo existir, os passos na roça caminhavam até aqui. Pois bem, como é sabido de cada um de nós a gente tem sonhos, e o desse menino, o Antônio, era ter uma bicicleta. Havia um negócio que sei lá, queria era deslizar pelas ruas e fugir do padre, da mãe parideira. Queria uma bicicleta e dentro da cachola cheia de cachos pediu pra Deus - isso mesmo, ousou fazer um desafio: você me dá uma bicicleta, senão docê eu desacredito. Passou ano e depois mais ano. Passaram. Os cabelos mais pixaim ficavam, nascia cabelo debaixo do braço e em partes que agora eu não vou citar. A bicicleta no sonho, e Deus desditoso negava um pedido tão ferroso. O menino cresceu e foi morar num lugar longe dos seus, um lugar do sertão chamado Montes Claros. Lá fez a última prece, porque tinha raiz forte no chão. Olhou em volta e se percebeu. Tanto menino sem bicicleta. Tanto menino sem bicicleta. Cuspiu no chão e enterrou, se Deus existe porque castiga os sem-amor? Quanta comida sem prato apodrece nos finos banquetes, e a cuíca ronca nos cantos de pau-a-pique sem cor? O menino fugiu e fez a sua vida que até aqui é bem cumprida, arrastou seus olhos por todo esse país e mais. Hoje eu ando na minha bicicleta com gosto, dada por meu pai, mas até hoje não me esqueci. E custo acreditar em Deus.

3 comentários:

Fabi disse...

Peço licença pra pisá nesse terreiro.
Eu, em minhas andanças virtuais, encontrei esse blog, tão formoso e forte. Muito massa! E aí eu pergunto, nele escreve uma pessoa só [tu Carolzinha?], ou é rede, é teia que formaliza o suspiro de várias gentes?
Massa mesmo!

Inté
F.

Flor que Não Existe disse...

Ô Fabi! Salve!
Entonces, aqui eu coloco texto meu e de amigo meu! Todo mundo contribui pra esse lugar aqui...

Valeu, moça,

beijo.

Eva disse...

valeu, muito bem ...muito legal sua estória e de seu pai! um beijão!! Eva