sábado, 23 de julho de 2011

Divino




Num dia chuvoso acordamos com uma baita ressaca, resultado do dia anterior virado de brincar Bumba Boi. Era quase cinco da tarde, os mosquitos comiam nossa perna e o ventiladorzinho engasgava a mesma musiquinha companheira de todas as noites. Queria faz tempo conhecer a casa Fanti Ashanti, e nesse dia às seis o mastro do Divino ia ser erguido. Perdemos a festa, e eu fiquei toda borocoxô, meio com esse tique que gente de fora tem de comer o bolo inteiro da curiosidade de uma vez.


Queria ver, cheirar, tocar tudo que pudesse aguentar, e não pude. Nessa hora, lembrava de Zelão falando no meio-tempo das horas: “Não fica nessa doidice de festa de São João... a gente vai pra um lugar e o que tem lá são as pessoas. É essa a história que a gente leva!”. Verdade verdadeira maior. “Quer saber, bora desbaratinar!”. Lá na rua de cima, na casa de Rose o povo se concentrava ao redor de uma churrasqueirinha, com um isopor ainda cheio. O reggae comia solto na radiola da casa ao lado, o calor estralava. Estralavam fogos de artifício também. Estralava o som de uma caixa. Duas, três! Uai, tão subindo o mastro do Divino ali na rua de Rose. E era um mastro bonito que só ele, cheio de guaraná Jesus e cana de açúcar. O canto ecoava na rua, por um grupo de mulheres vestidas de rosa, e que depois fui saber que eram as filhas da falecida Dona Ceci. Dizem que na época de Ceci, a coisa era impecável, e se algo não estava no gosto dela dentro do ritual, mandava desenterrar o mastro e cantar as ladainhas tudo de novo.

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