segunda-feira, 22 de dezembro de 2008



... agora é de vez: boa passagem a todos, e eu tô indo encontrar o mar... o mar!!!

sábado, 20 de dezembro de 2008

O dia em que eu aprendi a brincar de NADA


Tamires é uma pequenininha de 5 anos que mora em cima da casa do Skol, na favela do Pery Alto, Zona Norte. Todo dia ela acorda cedinho e fica brincando pelo quintal, já que ainda não vai pra escola. Quem fica cuidando dela é o irmão de 9 anos, o Felipe, mas deu meio-dia ele sai pra rua e aí só Deus. Dia desses eu estava comendo uma maçã requentando no sol do quintal, e parei pra observar a Tamires brincar com uma bolinha na escada que dá pro barraco dela.

- Tamires, que cê tá fazendo, bem?
- Tô brincando de nada.
- Uia, e como a gente brinca de nada?
- É fácil, ó: vou te ensinar. Você pega as coisas assim (pegou a bolinha), e deixa ela (a bolinha rola devagar pela escada). Viu?

- Tamires, que cê fez hoje?
- Nadei.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Quem é você, Nicarágua?

Quem é você
senão um triangulinho de terra
perdido na metade do mundo?

Quem é você
senão um vôo de pássaros
guardabarrancos
sabiás-da-praia
colibris?

Quem é você
senão um ruído de rios
levando consigo as pedras polidas e brilhantes
deixando pegadas de água pelos montes?

Quem é você
senão seios de mulher feitos de terra,
lisos, pontudos e ameaçadores?

Quem é você
senão cantar de folhas em árvores gigantes
verdes, emaranhadas e repletas de pombas?

Quem é você
senão dor e pó e gritos à tarde,
-"gritos de mulheres ,gritos de parto"?

Quem é você, Nicarágua
senão punho cerrado e bala em boca?

Quem é você, Nicarágua
para me doer tanto?

(Gioconda Belli)

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

pra resolver a questão

então agora vou colocar um do senhor, seu giovanni baffo:

ISSO DE QUERER
NAVEGAR
POR MARES QUE
NÃO DÃO MAIS PÉ
AINDA VAI NOS
MATAR
AFOGADOS.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

de Marquito

Não há solução
só solucinhos.

recado

Choveu.

Moiô nossos corações de alegria de ficar juntos ali, proseando um tanto.
Agradecida eu sou

por ti, dia bonito e encharcado.



(mostra cultural da cooperifa - é nóis)

ps: amanhã volto lá no clariô pra comemorar o mês da consciência negra.
ainda com luan luando e duo abanã.

Costume

E agora que o violino veio
como eu pedi
carregaram os ventos
cintilou a sorte e os
pequenos chamegos, as chances
de descarregos e relampeios de relance.
E agora que firmei alguns passos,
ofereci abraços de laço e
disse nãos rasteiros, nãos
inteiros pra quem duvida.

E agora que o violino veio...

Voa meu pensamento,
a mala eu faço,
tange a cuíca.

saindo dessas conversas de neninha...




"A vida apenas, sem mistificação"

Acalento uma idéia do tempo, que vai passando entre a friagem da manhãzinha, e a moleza do calorão. Onde tudo começou, eu era pequenininha, bichinha. Magrela de sempre, atrás de brincar com as águas do esgoto e despetalar a maria-sem-vergonha. Imaginação sem fim de criança, sedenta de cores. No embaraço do cabelo e na bunda de tanajura descobrindo um corpo. Pêlos e estrias, nervos. Assim uma coisa doída, só minha. Uma melancolia e formas de fantasia. Um bicho ôco, um entrave, palavras que não saem da boca. Um meeeeedo. Um apêgo? Nós dos cabelos, é sangue escorrendo. É feito de carne meu desejo que desabrocha. Que vai desenvolvendo não como pétalas, mas entre suor e lençóis. Sorrisos confundidos. Lágrimas buscando o fio de ouro. Um elo dourado, uma forma de respeito. Eu deitando, acalanto, no seu peito. Flor de nuvem, chuva fininha que traz o verde. O sorriso mais bonito que já existiu, sorriu pra mim sem fim. E eu seguro com as mãos em palma as culpas e cicatrizes, em fuga. Puxando pelo umbigo meu ventre te procura.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

1ª Mostra Cultural da Periferia

Com toda a licença, salve!

Vou chegando de novo, deixando o convite. Dia 22 de novembro - que cai num sábado - vai ter nova exposição minha, mais o mestre Jair Guilherme e o povo do Grafite. Quem gosta de um furdúncio que tome coragem pra sair de casa, que nesse dia aí ainda vai ter um pá de coisa boa. Pra provar que eu não minto, é só ver no anexo!!!

No mais, faço minhas as palavras do poeta Sérgio Vaz:


Povo lindo, povo inteligente,
.
a 1ª MOSTRA CULTURAL DA COOPERIFA já saiu do forno, agora, é só se ligar na programação e curtir uma semana inteira de atividades culturais, preparadas especialmente pra você, e o que é melhor, tudo de graça.
Esta Mostra que acontece do dia 18 a 23 de novembro, tem como objetivo comemorar os sete anos da Cooperifa, e vem um pouco na esteira da "Semana de arte moderna da periferia" que nós e vários grupos da região fizemos no ano passado, só que agora num formato menor, e com outro objetivos.
Desta vez queremos misturar tudo - em todos os sentidos-, pra ver no que que dá.
Da outra vez ficamos mais preocupados com os artistas, agora, estamos mais preocupados com a comunidade, com o público, e quem mais chegar.
Em todas as atividades virâo ônibus de escolas, faculdades e de outras quebradas. Se é um presente, então que todos recebam, né não?
E de quebra queremos fortalecer o mês da Consciência Negra na periferia da zona sul de São Paulo. Só para se ter uma idéia do tamanho do bagulho, está vindo a mostra de cinema Africano "Africala" diretamente do México, e antes mesmo de estrear na Cinemateca de São Paulo, vai rolar na tela da nossa comunidade. Não é pouco, e todo mundo sabe, a maioria das coisas boas que São Paulo apresenta, inclusive cinema Africano, quase nunca vem para as quebradas.
Isso sem contar com a presença marcante dos grupos "Espírito de Zumbi", "Instituto Umoja" e o grupo "Záfrica Brasil", tudo isso misturado à nossa gente, além do grupo "Teatro Mágico" de Osasco, temos a presença do escritor Marcelino Freire, Ferréz, Sacolinha, do cineasta Jeferson De, e mais uma par de gente maravilhosa que faz com que a margem de Sampa, não deixe a peteca cair.
Tudo isso, feito por nós, para nós, e quem mais chegar. Fora com os preconceitos. Todos.
Graças a uma a uma parceria que fizemos com a Ação Educativa (Eleilson) e o Centro Cultural da Espanha (Ana Tomé), a quem de público quero agradecer.
Queria aproveitar e agradecer também o apoio do SESC SANTO AMARO e a GLOBAL EDITORA, amigos, que toda vez que a gente precisa, não fecham as portas.
Todas as atividades culturais vão acontecer no CEU Campo Limpo, Casablanca e na Casa Popular de Cultura de M´Boi Mirim, amigos de sempre, e que nunca nos abandona. Valeu.
Vai ser uma semana inteira com teatro, literatura, cinema, dança, exposições de pinturas, grafites, feira de livros independentes, Saraus, debates e música. Uma semana inteira para comungar arte, cultura, a palavra, amizade e a luta por dias melhores.
E tudo isso vai acontecer porque a gente quer, e principalmente acredita, que uma nova periferia é possível, e necessária.
.
Sejam todos bem-vindos ao nosso sonho.
.
Sérgio Vaz
Vira-lata da literatura
.
.
Se liga na programação. Divulgue. Agende-se!


sábado, 1 de novembro de 2008

Candeias




Mato seco nessa planície: verde.
Gotas de ar coalhado: azul.
Azul e verde
verde e azul.
Posso apertar uma sementinha de vento
entre as unhas e soprar, até
colher uns pingos de água
batendo na pedra.
Onde eu olho nesse horizonte
nada se anuncia, come-quieto.
Tudo insiste azul e verde
entre os meus desejos
verde e azul.
Procuro com a lembrança outras paisagens
"Longe, um rumor alto de praia na estação. O barulho dos fogos de artifício. Pontas, abismos, arestas. Cores que se misturam e invadem os olhos, o pulmão. Verde-limão. Gritarias das gentes, festas."
Mas meu horizonte se abre longe
em qualquer canto que eu esteja,
é um silêncio de tocaia.
As pessoas já nascem grandes estátuas de pedra
suspensas.

Na linha onde principia o verde, onde termina o azul,
começa meu povo.

(Pra vó Mariínha e vô Vete)

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

QuintasOito no Espaço Clariô

Gente, seguinte...

essa quinta-feira eu, mais o Denis e Paulo sem Vulgo vamos expor nossas pinturas lá no Espaço Clariô, num baguio que chama "Quinta às Oito". A gente ainda vai bater um papo sobre nossos trampos e corres. Ainda vale muitão a pena ir ver a peça das meninas lá, "Hospital da Gente", do Marcelino Freire.
Bão, o site é:


http://www.espacoclario.blogspot.com/




A PARADA TÁ QUENTE !! É DE PRIMEIRA HEIN!!
BORALÁ COMPARECER??
7º QUINTASOITO NO CLARIÔ
DIA 30/10/2008 - 5ºF. AS 20HS
ESPAÇO CLARIÔ
RUA SANTA LUZIA, 96 - LGO DE TABOÃO DA SERRA



Fui!!!


Aniversário Cooperifa!






Pra ver as fotos desse dia bonito:

www. colecionadordepedras.blogspot.com

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

ANIVERSÁRIO DO SARAU DA COOPERIFA É FESTA NA PERIFERIA DE SÃO PAULO!


Aniversário da Cooperifa - Foto: João Wainer

Povo lindo, Povo inteligente,
quarta-feira o sarau da Cooperifa vai completar 7 anos de atividades poéticas na periferia de São Paulo, e para comemorar mais um ano de luta e resistência, a Cooperifa vai preparar um monte de surpresas para a comunidade.
Já de cara vai ter o lançamento do livro "DEMORÔ" do poeta Brasiliense Paulo Kauim, e uma exposição de Pinturas "Revestrés" da pintora Carolzinha, natural da Vila Indiana Z/O.
E aí, depois, nem deus sabe.
É nóis!
Sérgio Vaz
ANIVERSÁRIO DO SARAU DA COOPERIFA
Dia 22 de outubro 20hs30
Bar do Zé batidão
Rua bartolomeu dos Santos, 797
Chácara Santana
Periferia-SP
Infs. 72074748

Exposição Revestrés: Carolzinha



Capa do livro DEMORÔ de Paulo Kauim (direto de Brasília)

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Amor




Desenhar é uma coisa fácil, porque no reino da luz as cores têm vida própria. Se você joga o amarelo no azul vira verde, é uma lei da natureza. Mas cuidado, nunca se sabe: às vezes as cores tomam caminhos tão inesperados que pulam pra cima da gente como pipoca, levam nossos pensamentos para rios que escorrem em pontos desabitados da gente. Iluminam a nossa solidão... ou nossa euforia. Transportam nossos corpos em barcos no meio do nada, onde jorram correntes de ar e cegas navalhas. É um mundo paralelo onde tudo oque existe não tem nome: são amontoados de manchas coloridas em movimento, se derramando em palafitas e tomando os cantinhos, escurinhos.
É por isso que desenhar é uma coisa fácil, quando a gente desaprende por um momento de ver o mundo como casa, carro, poste, mulher, peixe.
No mundo da luz existe uma existência diferente. A gente tira os sapatos e mergulha. E o lápis sai rabiscando sozinho, e finca bem lá no pontinho ardido que sente.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Vamo que Vamo que o Som não pode Parar



Salve rapaziada,

Vou pedindo licença que a prosa é de alegria!

Dia de domingo vai acontecer uma festa na rua lá no Jd Helga, que é pra encher de cores as ruas e principalmente de verde, o chão de terra. O Movimento "Periferia Mostra sua Arte", que vai buscando espalhar os traços de artistas de todas as esquinas, pra mostrar em todo lugar, promove esse mês o "Sarau das Árvores". Vai ter música, poesia, oficinas, plantio de mudas e a exposição com Paulo sem Vulgo e Carolzinha o dia todinho.É só chegar chegando e se envorvendo, certo?

Grade Musical:
13h - Novo Milênio
14h - Dinamo Bumbo
15h - Bando da Rua
16h - Raizes de Javé
17h - Som de Zion
18h - Velha Guarda
19 - Roda de Samba

... Mais apresentação da Trupe da Lona Preta e Fuleragem.


Dia 19 de outubro, a partir das 10:00 hs.
R. Bernardo Nunes - Jd Helga - Campo Limpo (Estrada do Campo Limpo, altura do 1900. Subir a R. Januário Zíngaro até a R. Vicente Pinheiro, entrar à esquerda no BAR DO MUTCHO; ou descer no penúltimo ponto antes do final, do ônibus Jd Helga).

No mais, tudo em paz. Subindo a ladeira, sem preguiça, vai ter um lugar bão e acolhedor. Chegô. É isso, povo, dia de quarta-feira no tradicional Sarau da Cooperifa vou expor minhas pinturas ali de canto. Ê beleza! Espero todo mundo pra dividir essa alegria, e pra participar do sarau também né?

Dia 22 de outubro, a partir das 20:00 hs.
Bar do Zé Batidão - R. Bartolomeu dos Santos, 797 - Chácara Santana (Estrada do M'Boi Mirim, atrás da igreja do Piraporinha).

Um beijo procês, uai
Carolzinha.


VÂMO COLORÍ O MUNDÃO!!!

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Anota aí

Dia 22 de outubro vai ter exposição minha lá no Cooperifa pessoal! Da hora hein? Vai memorando a data que logo mais eu explico melhor essa história aí.

Ah! E aproveita pra conhecer o trampo do Dênis, um moleque bom pra caramba que tá no corre com nóis:

www.denismoreiradacosta.blogspot.com

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Salobra

Uma lágrima caiu dos olhos dele, de tanta que era a dor.
Lambi seu rosto, pra ver que gosto era essa mistura que sai da mina, salobra água que tempera e se aninha na minha própria caminhada.
Chorou e saiu pra colher um horizonte, onde a calma fosse um terço que se reza demorado, a gente fechando as mãos e pedindo e pronto. Saiu pra buscar o mar inteiro, coisa difícil.
Mas com o balaio que levou parecia fácil. Abria os braços e os peixes vinham, o surdo ecoava e as plantinhas se espalhavam.
Virou algazarra, as lágrimas dele na ponta da minha língua me recordavam um tempo, onde o giz dos meus ossos ainda eram terra fértil, que embalavam outros movimentos.
Uma lágrima caiu, de tanta era a dor, o mundo adoçou.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Jaboticabeira

Precisava de teu fruto, jaboticabeira
Porque o mundo é uma mesa posta
Onde se expõem os melhores pratos

Já não tenho olhos.

Precisava de teu fruto, jaboticabeira
Porque a vida é um noticiário
Onde se expõem os melhores fatos

Já não tenho olhos.

Precisava de teu fruto, jaboticabeira
Porque meu corpo é um receptáculo
Onde se escondem dois milhões de almas

Já não tenho alma.

(Dinha, de passagem mas não a passeio)

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Periferia Mostra sua Arte apresenta: Sarau das Árvores




O Movimento Periferia Mostra sua Arte busca promover as artes plásticas da periferia, realizando exposições dos artistas da comunidade na própria comunidade. Esse mês, promove o "Sarau das Árvores", com o objetivo de incentivar o plantio de árvores no Jd. Helga. O evento ocorre durante o dia inteiro na rua, e conta com a exposição das pinturas de Carolzinha Teixeira e Paulo s. Vulgo, bandas, debates ecológicos, distribuição e plantio de mudas, oficinas, e o sarau que acontecerá a partir das 18:00hs.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Pinturas, Rabiscos, Pingos




Colher de pau a mexer o feijão
A pitada de sal cheia de medidas a mais.
Os beijos de amor sem medidas, nunca demais.
O café perfuma as bocas. Que ainda teimam-se em beijar.

(Beatriz)

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Crime com Arte, Arte como Crime


Rafael PixoBomb estuda na faculdade de Belas Artes.

Ganhou uma bolsa de estudos.

Seu traço é composto por formas redondas e linhas retas.

Se formou na 3afeira. Para concluir o curso deveria apresentar um trabalho a ser exposto em uma das salas da faculdade, ao lado do trabalho de seus colegas.

Acontece que Rafael é pixador. Não se acomoda com a primeira resposta que o sistema lhe oferece. Devolveu aos colegas de faculdade o que cultivaram durante seu tempo lá, expôs uma obra que muita gente vai demorar a entender.

Um ataque de pixadores à faculdade. A nata da pixação, o time dos sonhos, que chegou e não teve dó: desceu a mão riscando paredes e janelas. O movimento artístico tomando de assalto a área acadêmica em seu berço. O feio risco contrapondo-se às Belas artes. Pixo não é para ser belo, é para agredir, chocar.
Rafael é conhecido na pixação por agir sozinho. Ontem estava acompanhado de diferentes grifes da pixação. Sacudiram prédios, janelas, muros, paredes e a alma dos presentes. Quem estava lá não vai esquecer dos mais de 40 que se espalharam por onde foi possível.
O que motivou cada um - protesto, ibope, adrenalina, revolta - não se sabe. Rafael seguiu à risca o conselho da professora que disse que seu trabalho de conclusão de curso devia “apavorar”, colocar para fora a raiva que carrega dentro de si.

Raivoso e cheio de idéias, Rafael usou a pixação como expressão da faculdade que diariamente o desrespeitava pela falta da educação formal. Os pequenos buracos na articulação de seus textos deram a força para colar suas idéias.
A sala central exibe os trabalhos de formatura dos alunos. Deveria também deixar lá sua conclusão de curso. Embora soubesse que tudo podia acontecer ” vai ser o que vier na hora, pixo não tem controle.”. Desceram do metrô e caminharam para a faculdade.
O bando chegou e entrou no primeiro prédio. A primeira faísca fez cor no ar, os caras entraram e atacaram a secretaria e saguão do prédio da faculdade de belas artes. Rafael seguiu. Tinha um objetivo.
A aluna com a mão no coração refletia “sabe, para muita gente 1500 reais não é muito dinheiro, mas para alguns alunos isso é uma grana.”. Em comum nenhum daqueles meninos sabe o que é gastar 1500 reais por mês numa faculdade. A maioria nem sabe o que é cursar uma faculdade. Vivem todos do lado de fora do mundo das belas artes.

Rafael chegou reto na parede branca, fim do biombo onde adormeciam fantasmas em fotos. A sala central exibia o trabalho de seus colegas de classe. Entrou encapuzado, agressivamente e sem violência. Tirou o spray e começou: “E vc que” está lá. Você que o quê? Não vai saber. Ele começou a escrever e foi interrompido. Uma senhora bateu repetidamente com um buquê de flores na sua cabeça.

A “dona da parede” gritava “só porque ele não tem um trabalho quer arruinar o dos outros. vagabundo, isso é coisa de quem não tem trabalho”, o empurrou uma, duas vezes, veio o namorado dela e deu um grande “chega para lá” no aluno-artista. A balbúrdia formada enquanto no verso de outro tapume um grande pixo deixava claro que aquele espaço estava sendo preenchido. Arte ataque.
Alguns presentes acharam que era performance. Depois invasão. gritos, pancadarias, frases reacionárias, coisa digna da ditadura militar. Tentavam agredir aquele que trouxe a maior agressão às suas vidas: a realidade.

A segurança agiu violentamente. Rafael não. Sua intenção era clara e não incluía agressão física. Estava lá para colocar em xeque a “arte burguesa”. Uma prateleira de pequenas vênus de chocolate para serem devoradas pelos presentes faz sentido? Um vídeo de nove minutos de uma pessoa seminua na floresta faz sentido? Letras e garranchos desenhados na parede, frases de protesto, a invasão e a transgressão do spray faz mais ou menos sentido? Qual deles faz sentido para você?

A entrada da faculdade virou um evento. A maioria dos pixadores conseguiu fugir. Os muros mostravam sua passagem pelo local. Os alunos que saíam da sala de aula encaravam a maior obra que já ocupou aquele espaço. Os pixadores promoveram uma verdadeira instalação-performance, melhor que tudo o que já se viu. Spray, rolinho, canetão. No muro do lado de fora da brilhava “às belas das artes”, na entrada do saguão jazia “Abra os olhos e verá a inevitável marca da história”, na outra parede o aviso “antes o barulho ensurdecedor”. Pixação é anarquia pura.
O burburinho do lado de fora demorou a acalmar. Houve pancadaria entre seguranças, estudantes de salto alto, pixadores. Rafael foi levado à salinha e só saiu inteiro porque a imprensa estava junto. Alunos bicho-grilo riam das três viaturas que apareceram: se fosse na ESPM, eles contavam, tinham chamado a SWAT. Outra aluna explicava que alguém do último ano tinha contratado uns pixadores para seu trabalho. A histérica berrava vagabundo. E teve gente que conseguiu ver naquilo a maior transgressão que a faculdade já presenciou.

Duchamp e mais uma leva de artistas estão se acabando de rir na tumba. Entre vênus de chocolate e o vídeo interminável de uma pessoa num jardim, Rafael ofereceu o que há muito a turma das belas artes não sentia: incômodo, desconforto, provocação. Ele colocou o dedo na ferida e ainda o fez com maestria

Rafael saiu de lá na viatura direto para a delegacia. Com ele CDV, pixador de linha de frente que chegou até a sala de trabalhos e deixou seu pixo marcado enorme. Mais quatro que participaram do ataque foram levados em outra viatura.

Na madrugada os programas policiais se apinharam na delegacia atrás dos meninos. Saiu nota no globoonline. O bom da arte é isso, cada um entende como quer.
Rafael em um “arte ataque”. Seu traço une a estética do wildstyle de nova york da década de 80 com as linhas da pixação paulistana, um dos maiores movimentos urbanos contemporâneos. Conhecido por sua habilidade em escalada, Rafael quer ser artista. Já é.


vejam as fotos e etc no site renatasim.wordpress.com

sábado, 6 de setembro de 2008

dos falantes de si.

Nas palavras que cabem o mundo,
tudo faz, tudo é, tudo pode,
tudo que é bom se tem.

Nas ações, que sobram vida á elas,
pouco no dia a dia se faz, pouco do bom, se vê.
E assim, nada pode.

(Mais um da Beatriz)

Para Lorena. Da Beatriz.

Nasce flor. Nasce!
De escura força.
Tamanho a se perder de vista...

Nasce.
No inclinado.
Em falso.
Na pequena brecha da trincheira.

Ela nasce.

Trazendo céus de noites nas pétalas.
Cores com infinitos de alegria.

Hoje a flor, já nasceu.

Foi a Beatriz que fez! (Dez/2007)

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Trem de Ferro


(Tom Jobim e Manuel Bandeira)

Café com pão
Café com pão
Café com pão

Virgem Maria que foi isto maquinista?

Agora sim
Café com pão
Agora sim
Café com pão

Voa, fumaça
Corre, cerca
Ai seu foguista
Bota fogo
Na fornalha
Que eu preciso
Muita força
Muita força
Muita força

Oô..
Foge, bicho
Foge, povo
Passa ponte
Passa poste
Passa pato
Passa boi
Passa boiada
Passa galho
De ingazeira
Debruçada
Que vontade
De cantar!

Oô...
Quando me prendero
No canaviá
Cada pé de cana
Era um oficia
Ôo...
Menina bonita
Do vestido verde
Me dá tua boca
Pra matá minha sede
Ôo...
Vou mimbora voou mimbora
Não gosto daqui
Nasci no sertão
Sou de Ouricuri
Ôo...

Vou depressa
Vou correndo
Vou na toda
Que só levo
Pouca gente
Pouca gente
Pouca gente...

("lição de casa" que fiz para uma disciplina lá das Artes Plásticas)

Para Beatriz

O bordado da Bia
começa de manhãzinha
espiando pela janela do ônibus
os pontos sem nó da partilha.

São retalhos da sua lida:
uns de tato sedosos e aqueles
que os dedos castiga.

Mas o que forma o contorno
da renda
é até o que Deus duvida:
o bordado da Bia é alicerce
de quem tem fé é na vida!

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

O pudim

Foi preso por um crime passional. Matou a mulher e o amante quando flagrou-os trepando em sua própria cama. Condenado a 15 anos de cadeia, foi direto para o Carandiru, sem escalas.
Sempre teve bom comportamento, não dava trabalho para os funcionários e todos os presos do pavilhão 7, onde morava, gostavam dele. Tinha nome, mas ninguém nunca soube qual era. Todo mundo o conhecia mesmo por Pudim, devido a sua maior especialidade na cozinha.
Realmente, o pudim que ele fazia era diferente. Derretia na boca, tinha um gosto adocicado que despertava em todos lembranças da infância. Ninguém passava batido àquele pudim. Dentro de uma cadeia horrível, aquilo era um manjar dos deuses. Todos os dias, depois das refeições aquele doce maravilhoso era disputado a tapa por ladrões, traficantes, homicidas e estelionatários.
Não demorou muito tempo para que os diretores da cadeia descobrissem aquela maravilha da culinária que era feita no terceiro andar do pavilhão 7. Em pouco tempo, Pudim foi trabalhar no setor administrativo da cadeia. Fazia pudim para funcionários, policiais, diretores e visitantes. Rapidamente seu prato ganhou fama e virou lenda no sistema penitenciário.
Graças a seu bom comportamento, Pudim tinha trânsito livre na cadeia, e isso foi muito importante quando se envolveu num plano de fuga com outros detentos. Ele conhecia os horários, os caminhos, e foi aprendendo aos poucos os pontos fracos da Detenção. Ele e mais 24 detentos escaparam por um túnel cavado perto do muro do pavilhão 2 e nunca mais foram vistos.
Os diretores, funcionários e policiais ficaram putos com aquela fuga, mas o que realmente lamentaram foi perder o já tradicional pudim de depois do almoço. Aquilo foi como um tiro no estomago de cada um deles.
Nessa época, o diretor da cadeia era o Luizão, um policial implacável que tinha o hábito de desafiar os bandidos mais perigosos para lutar boxe no “mano a mano”. Exímio boxeador, ele conhecia seu potencial e vencia a todos os seus oponentes, que desmoralizados por apanhar do diretor na frente de toda a bandidagem, nunca mais davam trabalho na cadeia.
Luizão não gostava de fazer só trabalhos administrativos e as vezes participava de operações na rua.
Certa vez, foi comandar um grupo de policiais numa operação para prender traficantes de drogas na fronteira do Brasil com o Paraguai. Era um trabalho difícil, e foram vários dias de campana na selva esperando que os bandidos aparecessem.
Depois de muita espera, cansados, sujos e com fome, desistiram e foram até a cidade mais próxima em busca de um lugar para comer. Chegaram em Fátima do Sul, cidade de três mil habitantes, que tem apenas uma rua asfaltada. Procuraram a única churrascaria do local e comeram como reis após tanto tempo no mato.
Depois da fome saciada, chamaram o garçom e pediram a conta. O garçom, muito simpático, disse que antes de sair eles não poderiam deixar de experimentar a sobremesa que era a maior especialidade da casa. Foi até a cozinha, voltou com um enorme prato de pudim e serviu a todos os policiais da mesa.
Quando sentiu aquele cheiro, Luizão começou a desconfiar. Deu a primeira colherada pra ter certeza. Aquela massa doce desceu tão macia em sua garganta que não haviam mais dúvidas. Pós a mão no coldre da pistola e chamou o garçom: “Isso está uma delícia, traga aqui o cozinheiro porque eu gostaria muito de cumprimentá-lo por essa maravilha de pudim”.
O cozinheiro saiu da cozinha, preparado para receber os elogios aos quais estava tão acostumado e não esboçou reação ao ver aqueles quinze policiais liderados por Luizão apontando armas em sua direção. Era ele mesmo, o Pudim do Carandiru, que estava foragido a dois anos, escondido em Fátima do Sul com a certeza de que jamais seria encontrado.
Desolado por tanto azar, Pudim voltou para cadeia graças ao que fazia de melhor. Dizem que depois disso, o pudim que ele fazia nunca mais foi o mesmo.


tranca-rua.blogspot.com

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Se eles me entendessem...

A conversa ia desfiando desfiando, coisa séria. Toda uma história de vida, alegria e agruras iam aparecendo. Nesse meio todo eu abria bem os ouvidos e descascava a unha.

ELE: - Pra me entender nem o Pink Floyd

quer dizer...

Freud.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Tem gente com Fome

Trem sujo da Leopoldina
correndo correndo
parece dizer
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome

Piiiiii

Estação de Caxias
de novo a dizer
de novo a correr
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome

Vigário Geral
Lucas
Cordovil
Brás de Pina
Penha Circular
Estação da Penha
Olaria
Ramos
Bom Sucesso
Carlos Chagas
Triagem, Mauá
trem sujo da Leopoldina
correndo correndo
parece dzier
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome

Tantas caras tristes
querendo chegar
em algum destino
em algum lugar

Trem sujo da Leopoldina
correndo correndo
parece dizer
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome

Só nas estações
quando vai parando
lentamente começa a dizer
se tem gente com fome
dá de comer
se tem gente com fome
dá de comer
se tem gente com fome
dá de comer

Mas o freio de ar
todo autoritário
manda o trem calar
Psiuuuuuuuuuuu

(SOLANO TRINDADE)

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Escrito de Augusto...

EU ADÃO

Essa história começa com Adão.
Dizem que, no principio, ele era hermafrodita, um gigante andrógeno.
Ele o criou macho e fêmea e os chamou Adão.
Quatro braços, quatro pernas ,duas cabeças, dois conjuntos de orgãos sexuais, dois corpos unidos...
E Deus dividiu Adão em dois seres.
Um macho e outro fêmea.
Adão e Lilith.
Lilith foi a primeira esposa de Adão.
Ela era poderosa e inteligente.
Afinal de contas era ele...
Um ele mulher.
Quando faziam sexo, ela insistia em ficar por cima. Uma posição de igualdade, de superioridade.
Lilith foi expulsa do Éden e plantou seu próprio jardim. Dizem que ele copulou com demônios, ou com os filhos de Deus, e teve muitos filhos.
E Adão ficou sozinho.
Foi então que Deus criou a segunda esposa.
Deus a criou para Adão a partir do nada.
Ossos primeiro, depois orgãos internos, então carne, musculos, tendão, gordura, b´lis, olhos, catarro, pele, cabelo, halito...
Adão não aguentava chegar perto dela.
Ele não a tocava.
Ele a viu cheia de secreções e sangue.
Corpos são estranhos.
Algumas pessoas tem sérios problemas com as coisas que acontecem no interior deles. Você descobre que dentro de alguem que você conhece só há muco, carne, limo e ossos.
As vezes isso acaba com o romance.
As opniões diferem com o que aconteceu com ela.
A maioria diz que Deus a destruiu, alguns afirmam que ela teve permissão de deixar o jardim sozinha.
Ela nunca teve um nome.
Depoi disso, Deus pois Adão para dormir, tirou uma costela sua e, a partir dela, criou Eva e Adão só despertou quando ela estava completa. Ele viu Eva perfeita a tomou-a como esposa.
Mas eles comeram da árvore do bem e do mal e, conhecendo essas duas forças opostas, não estavam mais no paraiso.
No gênese é declarado que Deus Expulsou-os porque teve medo; medo de que, tendo desobedecido à Ele uma vez, poderiam desobedecer novamente e comer da árvore da vida novamente e viverem eternamente como Deus.
Adão e Eva viveram juntos até que a morte os separou.
Alguns dizem que esta é a verdadeira história e que existiu um paraiso terrestre.
Outros afirmam que a história é uma metáfora; o fruto agridoce da sabedoria.
Mas isto é verdade: Adão teve três esposas.
Lilith deu à luz as coisas que assombram as noites dos filhos de Adão desde então.
Mãe de muitos...
A sem nome, a virgem, esquecida, talvez friamente destruida e não mencionada, salvo no mais empoeirado dos livros.
Eva viveu para ser mais velha que qualquer mulher.
Não morreu, mas retirou-se para sua caverna. Culpada pelo pecado, pela miséria , pela queda...
Mas alguns dizem que Adão só se casou uma vez.
E isso também é verdade.

(O Augusto)

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Fica de Zóio!

Fiz um Flickr pra eu, gente:

www.flickr.com/photos/destruidorasdelares

Olha os Bento aiiiiiiiií

E eu vou atacar de backing vocal (quem diria???) desses rapazes aí, vamos ver que bixo dá:



Isso aí Familia

terça-feira, 29 de julho de 2008

Exposição Conde



Salve, Povo. Licença.


Edições Toró na responsa de desenrolar o revide e dar chão à raiz, convida pro lançamento do livro e da exposição “CONDE” – Coletânea de pinturas e textos desse grande artista plástico que nos deixou recentemente.


Conde marcou os bairros do Jd.João 23, Jd.Uirapuru, Jd.Arpoador e Cohab Educandário, onde cresceu órfão de pai e de mãe e espraiou por vielas e ladeiras a boniteza e o ardido dos seus quadros, murais e esculturas. Pintor e ativista, foi fundador da Associação dos Artistas e Artesãos do Jardim Arpoador e fez dos barracos onde morou ateliês abertos, onde recebia a juventude pra tintar, musicar e modelar.


Suas dezenas de quadros e grafites cavucaram o imaginário, as estripulias, sanhas e senhas do povo preto e favelado, além de salientar a presença das culturas indígenas, entre a tragédia e a ternura, mesclando realismo e fantasia nas suas figuras, retratos e viagens.


Recolher a obra de Conde, em livro, pretende rasgar e adoçar caminhos pra que a obra desse mano chegue ao povo, aos museus, catálogos, bibliotecas, escolas e ganhe realce dentro das linhagens das artes plásticas negras brasileiras.


O livro traz escritos alguns poemas e reflexões do artista, mais textos de JPR (que enfatiza a passagem de Conde pelas quebradas da zona oeste e cita influências cotidianas e ancestrais da sua obra) e de Marcelo D´Salete ( que, como artista plástico e estudioso, detalha elementos da originalidade do trabalho de Conde)


O lançamento do livro e da exposição de quadros, conta também com a magnética e retumbante música e dança do BALLET AFRO KOTEBAN (que pesquisa seriamente, ressoa e balança nas tradições da Guiné), os versos de Akins Kinte e Allan da Rosa, o acordeon de Aline Reis, as fotografias de Guma e a exposição dos instrumentos percussivos, artesanais, confeccionados pelo Ateliê Ilu Mina.


É SÓ CHEGAR

SÁBADO, 09 DE AGOSTO, DAS 18HS ÀS 21H30

NA CASA DE CULTURA DO BUTANTÃ – Av. Junta Mizumoto, 13 – Jd.Peri Peri – 3742-6218

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Pra quem vem do Taboão/Embu/Capão/Campo Limpo: Pegar, a partir do Largo do Taboão, da Avenida Campo Limpo ou da BR 116, a Avenida Eliseu de Almeida até o número 2.500, virar à esquerda na Rua Iauaretê. Chega de frente à Casa de Cultura do Butantã.

Pra quem vem da Zona Norte, Leste, Centro ou outras bandas da Sul: Qualquer ônibus que pegue a Rebouças e passe na Avenida Francisco Morato, onde deve se desembarcar na altura do n° 3.365 e entrar na Rua Cânio Rizzo, atravessar a Avenida Eliseu de Almeida e chegar na Rua Iauaretê.

Pra quem vem da rodovia Raposo Tavares, do Jardim João 23, Arpoador, Uirapuru e Educandário: Pegar qualquer ônibus sentido centro e descer no Peri Peri, na altura do corpo de Bombeiros e do Posto de Saúde, virar na Avenida Laudo Ferreira de Camargo e caminhar até à travessa da Avenida Junta Mizumoto. É aí, no número 13.



( em anexo, a arte do convite, obra de Conde lapidada por Mateus Subverso)

Allan da Rosa

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Pelas Vias

Pelas vias que vim, não havia sinais
Havia peles dos pés
Detalhes dos cheiros
E nunca brandura no ar
Era árido e seco por todo o lugar
E nem havia passantes ou gestantes
No meu andar respirava por dentro
Minha fome de querer ver um mar
Durante a vinda, vim vestindo caras!
Caras de mulher
E aprendendo mugidos, blecautes
Agora há rugidos em mim me dizendo ser fé
Pés, pisantes enormes
Possuídos sob minha própria poeira corpórea
Que de tanto andar, a lucidez me emociona
E mesmo sabendo do vazio do nada
Caminho, caminho pelo impulso único de mim
Animal que é o homem
O que se não sabe tateia
Movimentos sugerem idéias, passadas mais largas
Disciplinadas.

poema de Maria Tereza - do livro "Negrices em Flor"

Donde Piras

Esse moço aí conheci entre outros em uma fantástica aventura a pé, depois de perder o buzão no meio do Campo Limpo, depois do sarau do Binho. Tá certo, disso eu trato depois. Esse poema aí eu roubei na caruda:

Se um dia for anunciado
que no Reino do céu tem
pão

Quantos meninos
brasileiros
não se precipitarão?!

E partirão com famintos
devaneios...

Presunto
Café
Requeijão


foi Giovani Baffo que fez

terça-feira, 15 de julho de 2008

O Relógio


Pra quem está careca de ler estes dois textos, desculpa aí. Tô colocando aqui pra manter a lembrança mesmo:

Pensamentos quase póstumos

LUCIANO HUCK
Pago todos os impostos. E, como resultado, depois do cafezinho, em vez de balas de caramelo, quase recebo balas de chumbo na testa
LUCIANO HUCK foi assassinado. Manchete do “Jornal Nacional” de ontem. E eu, algumas páginas à frente neste diário, provavelmente no caderno policial. E, quem sabe, uma homenagem póstuma no caderno de cultura.
Não veria meu segundo filho. Deixaria órfã uma inocente criança. Uma jovem viúva. Uma família destroçada. Uma multidão bastante triste. Um governador envergonhado. Um presidente em silêncio.
Por quê? Por causa de um relógio.
Como brasileiro, tenho até pena dos dois pobres coitados montados naquela moto com um par de capacetes velhos e um 38 bem carregado.
Provavelmente não tiveram infância e educação, muito menos oportunidades. O que não justifica ficar tentando matar as pessoas em plena luz do dia. O lugar deles é na cadeia.
Agora, como cidadão paulistano, fico revoltado. Juro que pago todos os meus impostos, uma fortuna. E, como resultado, depois do cafezinho, em vez de balas de caramelo, quase recebo balas de chumbo na testa.
Adoro São Paulo. É a minha cidade. Nasci aqui. As minhas raízes estão aqui. Defendo esta cidade. Mas a situação está ficando indefensável.
Passei um dia na cidade nesta semana - moro no Rio por motivos profissionais - e três assaltos passaram por mim. Meu irmão, uma funcionária e eu. Foi-se um relógio que acabara de ganhar da minha esposa em comemoração ao meu aniversário. Todos nos Jardins, com assaltantes armados, de motos e revólveres.
Onde está a polícia? Onde está a “Elite da Tropa”? Quem sabe até a “Tropa de Elite”! Chamem o comandante Nascimento! Está na hora de discutirmos segurança pública de verdade. Tenho certeza de que esse tipo de assalto ao transeunte, ao motorista, não leva mais do que 30 dias para ser extinto. Dois ladrões a bordo de uma moto, com uma coleção de relógios e pertences alheios na mochila e um par de armas de fogo não se teletransportam da rua Renato Paes de Barros para o infinito.
Passo o dia pensando em como deixar as pessoas mais felizes e como tentar fazer este país mais bacana. TV diverte e a ONG que presido tem um trabalho sério e eficiente em sua missão. Meu prazer passa pelo bem-estar coletivo, não tenho dúvidas disso.
Confesso que já andei de carro blindado, mas aboli. Por filosofia. Concluí que não era isso que queria para a minha cidade. Não queria assumir que estávamos vivendo em Bogotá. Errei na mosca. Bogotá melhorou muito. E nós? Bem, nós estamos chafurdados na violência urbana e não vejo perspectiva de sairmos do atoleiro.
Escrevo este texto não para colocar a revolta de alguém que perdeu o rolex, mas a indignação de alguém que de alguma forma dirigiu sua vida e sua energia para ajudar a construir um cenário mais maduro, mais profissional, mais equilibrado e justo e concluir -com um 38 na testa- que o país está em diversas frentes caminhando nessa direção, mas, de outro lado, continua mergulhado em problemas quase “infantis” para uma sociedade moderna e justa.
De um lado, a pujança do Brasil. Mas, do outro, crianças sendo assassinadas a golpes de estilete na periferia, assaltos a mão armada sendo executados em série nos bairros ricos, corruptos notórios e comprovados mantendo-se no governo. Nem Bogotá é mais aqui.
Onde estão os projetos? Onde estão as políticas públicas de segurança? Onde está a polícia? Quem compra as centenas de relógios roubados? Onde vende? Não acredito que a polícia não saiba. Finge não saber.
Alguém consegue explicar um assassino condenado que passa final de semana em casa!? Qual é a lógica disso? Ou um par de “extraterrestres” fortemente armado desfilando pelos bairros nobres de São Paulo?
Estou à procura de um salvador da pátria. Pensei que poderia ser o Mano Brown, mas, no “Roda Vida” da última segunda-feira, descobri que ele não é nem quer ser o tal. Pensei no comandante Nascimento, mas descobri que, na verdade, “Tropa de Elite” é uma obra de ficção e que aquele na tela é o Wagner Moura, o Olavo da novela. Pensei no presidente, mas não sei no que ele está pensando.
Enfim, pensei, pensei, pensei. Enquanto isso, João Dória Jr. grita: “Cansei”. O Lobão canta: “Peidei”.
Pensando, cansado ou peidando, hoje posso dizer que sou parte das estatísticas da violência em São Paulo. E, se você ainda não tem um assalto para chamar de seu, não se preocupe: a sua hora vai chegar.
Desculpem o desabafo, mas, hoje amanheci um cidadão envergonhado de ser paulistano, um brasileiro humilhado por um calibre 38 e um homem que correu o risco de não ver os seus filhos crescerem por causa de um relógio.
Isso não está certo.

LUCIANO HUCK, 36, apresentador de TV, comanda o programa “Caldeirão do Huck”, na TV Globo. É diretor-presidente do Instituto Criar de TV, Cinema e Novas Mídias.


Pensamentos de um “correria” FERRÉZ


“Ele não terá homenagem póstuma se falhar. Pensa: “Como alguém usa no braço algo que dá pra comprar várias casas na quebrada?”
ELE ME olha, cumprimenta rápido e vai pra padaria. Acordou cedo, tratou de acordar o amigo que vai ser seu garupa e foi tomar café. A mãe já está na padaria também, pedindo dinheiro pra alguém pra tomar mais uma dose de cachaça. Ele finge não vê-la, toma seu café de um gole só e sai pra missão, que é como todos chamam fazer um assalto.
Se voltar com algo, seu filho, seus irmãos, sua mãe, sua tia, seu padrasto, todos vão gastar o dinheiro com ele, sem exigir de onde veio, sem nota fiscal, sem gerar impostos.
Quando o filho chora de fome, moral não vai ajudar. A selva de pedra criou suas leis, vidro escuro pra não ver dentro do carro, cada qual com sua vida, cada qual com seus problemas, sem tempo pra sentimentalismo. O menino no farol não consegue pedir dinheiro, o vidro escuro não deixa mostrar nada.
O motoboy tenta se afastar, desconfia, pois ele está com outro na garupa, lembra das 36 prestações que faltam pra quitar a moto, mas tem que arriscar e acelera, só tem 20 minutos pra entregar uma correspondência do outro lado da cidade, se atrasar a entrega, perde o serviço, se morrer no caminho, amanhã tem outro na vaga.
Quando passa pelos dois na moto, percebe que é da sua quebrada, dá um toque no acelerador e sai da reta, sabe que os caras estão pra fazer uma fita.
Enquanto isso, muitos em seus carros ouvem suas músicas, falam em seus celulares e pensam que estão vivos e num país legal.
Ele anda devagar entre os carros, o garupa está atento, se a missão falhar, não terá homenagem póstuma, deixará uma família destroçada, porque a sua já é, e não terá uma multidão triste por sua morte. Será apenas mais um coitado com capacete velho e um 38 enferrujado jogado no chão, atrapalhando o trânsito.
Teve infância, isso teve, tudo bem que sem nada demais, mas sua mãe o levava ao circo todos os anos, só parou depois que seu novo marido a proibiu de sair de casa. Ela começou a beber a mesma bebida que os programas de TV mostram nos seus comerciais, só que, neles, ninguém sofre por beber.
Teve educação, a mesma que todos da sua comunidade tiveram, quase nada que sirva pro século 21. A professora passava um monte de coisa na lousa -mas, pra que estudar se, pela nova lei do governo, todo mundo é aprovado?
Ainda menino, quando assistia às propagandas, entendia que ou você tem ou você não é nada, sabia que era melhor viver pouco como alguém do que morrer velho como ninguém.
Leu em algum lugar que São Paulo está ficando indefensável, mas não sabia o que queriam dizer, defesa de quem? Parece assunto de guerra. Não acreditava em heróis, isso não!
Nunca gostou do super-homem nem de nenhum desses caras americanos, preferia respeitar os malandros mais velhos que moravam no seu bairro, o exemplo é aquele ali e pronto.
Tomava tapa na cara do seu padrasto, tomava tapa na cara dos policiais, mas nunca deu tapa na cara de nenhuma das suas vítimas. Ou matava logo ou saía fora.
Era da seguinte opinião: nunca iria num programa de auditório se humilhar perante milhões de brasileiros, se equilibrando numa tábua pra ganhar o suficiente pra cobrir as dívidas, isso nunca faria, um homem de verdade não pode ser medido por isso.
Ele ganhou logo cedo um kit pobreza, mas sempre pensou que, apesar de morar perto do lixo, não fazia parte dele, não era lixo.
A hora estava se aproximando, tinha um braço ali vacilando. Se perguntava como alguém pode usar no braço algo que dá pra comprar várias casas na sua quebrada. Tantas pessoas que conheceu que trabalharam a vida inteira sendo babá de meninos mimados, fazendo a comida deles, cuidando da segurança e limpeza deles e, no final, ficaram velhas, morreram e nunca puderam fazer o mesmo por seus filhos!
Estava decidido, iria vender o relógio e ficaria de boa talvez por alguns meses. O cara pra quem venderia poderia usar o relógio e se sentir como o apresentador feliz que sempre está cercado de mulheres seminuas em seu programa.
Se o assalto não desse certo, talvez cadeira de rodas, prisão ou caixão, não teria como recorrer ao seguro nem teria segunda chance. O correria decidiu agir. Passou, parou, intimou, levou.
No final das contas, todos saíram ganhando, o assaltado ficou com o que tinha de mais valioso, que é sua vida, e o correria ficou com o relógio.
Não vejo motivo pra reclamação, afinal, num mundo indefensável, até que o rolo foi justo pra ambas as partes.

REGINALDO FERREIRA DA SILVA , 31, o Ferréz, escritor e rapper, é autor de “Capão Pecado”, romance sobre o cotidiano violento do bairro do Capão Redondo, na periferia de São Paulo, onde ele vive, e de “Ninguém é Inocente em São Paulo”, entre outras obras.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Faz Muito Tempo

As mulheres
As meninas
As moças
As mães e tias da periferia
Querem homens profundamente
Mais educados educadores
Mais pensantes pensadores
Mais elegantes não só reprodutores
Mais generosos não geniosos
Mais humanos cidadãos
Porque a história tem seus ciclos sim
E tudo se renova de olhos atentos
E principalmente as avós
Querem homens que enterrem seus mortos

MARIA TEREZA

terça-feira, 1 de julho de 2008

Ressacão

Rascunho para O Encanta Realejo





Vale a pena ouvir! É bããããããão!
www.myspace.com/oencantarealejo

segunda-feira, 23 de junho de 2008

De arrepiar os cabelim do braço

Essa história se deu e se dá, lá pelos lados de onde o vento faz a curva, em uma região chamada 3ª Divisão na Zona Leste de São Paulo...

Pois bem, dizem os moradores, que há vinte anos atrás nasceu um Menino muito alegre e, para comemorar esse acontecimento, os pais do Menino plantaram uma árvore. O tempo se passou, e na medida que o Menino crescia, a árvore acompanhava até dar muitos frutos e flores. Porém, por uma dessas brincadeiras do destino, o Menino morreu de morte matada. Com raiva dessa fatalidade os pais foram até a árvore e a derrubaram, jogando a tora em um terreno baldio no alto do morro. Porém, quando baixa a noite e principalmente se é lua cheia, dizem que a árvore chora orvalho e sai rolando pelos barrancos, pelas ruas... e depois volta subindo pro terreno baldio... em silêncio...

BUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUU!!!

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Salve Família



Olha a mulecagem!

Salve Família


Esse aí é outras idéia... Diz aí Le Balthê!!!

Eu sou favela, latino-americano
aqui beira do Pira Clementino suburbano
sem código penal, sou afro-brasileiro
não dependo da sorte é correria o ano inteiro
Ascendente da Abissínia, Rainha de Sabá
malandro, quilombola, água preta, quipapá
Agreste Pernambuco terra de Lampião
que antes de Che Guevara comandou revolução
A benção padim-Ciço Antonio Conselheiro
nunca vai batê banzo de porão navio negreiro
E hoje a idéia louca de Ordem e Progresso
na roda da História só me quer no retrocesso
Vai sentir pelo choque que aqui cultura ferve
É Preto Soul Zona Sul:
Hei doidão nem esquece!!!

Baltazar - vulgo Le Balthê

www.myspace.com/pretosoul

domingo, 15 de junho de 2008

Oi sim sim sim, Oi não não não

Na letra de lápis descanso a vista, sonhando com o seu horizonte. Já fui mulher feliz em outros rios. Já penei em chãos de areia, miguelagens de quem muito resfolega e desconversa. Mas eis que uma fagulha pipocou no céu e caiu no asfalto, trançando o meu e o seu passo. Pois bem, por bem, entrevi um laguinho com água fresca, de cimento sem reboco e uma florzinha. E ali todas as vozes queridas, e ali a brisa que balança a rede. Um beijo desses com vontade de comer goiabada e queijo, os momentos sem modos e sem educação, devorando tudo com gosto, entornando a sede. Cada tijolo encimando o outro, a malícia malandragem sem maldade que queima a vista. O mundo que você vai dedilhando assim, meu olho apequena. A rua já era sua sem licença, percorrendo com os pés descalços, batendo latas, batendo boca. O mundo é uma grande mistura, tem perigos. A morte entreolha nas brincadeiras de criança preta, nas quebradas das vias. Sério mesmo, coisa de homem. Comer marmita fria e desgosto de pobre. Sério é quando precisa ser homem, cuidar da cria. Quando é domingo a mente descansa e balança na rima, que engancha na batida. É o que você mais ama? Ritmo e Poesia. Mandamentos nobres. Pois é essa a ética, uma palavra forte não desmancha, representa na favela. É coisa que não se ouve na escola, é outra estória. É uma manha que cora o canto do olho sorrindo, é um sorriso que não aceita qualquer presente. Toma posse do meu carinho, confundindo a ponta dos meus dedos nos redemuinhos, de cabelo pixaim. É uma alegria que se joga, um tombo comemorado. Cuidado. Um sopro curando meus cortes. Alisando o dorso. Querendo abrir todas as portas do mistério, chamando ancestrais, subindo montes atrás das chaves. Coragem. A ti ofereço letras de lápis.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

A Carta da Beatriz


Sempre fui tirado
a ler e escrever poesia.
E desde mulecotinho
pegava a caneta e escrevia.
Mas saia cada tosqueira
que parecia o cú da gia.

Os meninos da minha classe
me ensentivavam a escrever.
Gostavam das sacanagens
que eu insistia em escrever.
E pedia rimas novas
pro gererê-gererê.

Mas o que eu quero relatar
é uma passagem engraçada
que aconteceu comigo
qundo arrumei namorada.
Já namorava ela à meses,
e ela sem saber de nada.

Até hoje me lembro
o jeitinho da infeliz.
Branquinha, cabelos negros...
e se chamava Beatriz.
Fiquei caidinho de cara,
mas ela nunca me quis.

E nessa gastura louca,
eu esperava na esquina.
E na hora do recreio
pagava doce na cantina.
Ela pegava o mimo
e ia lá comer com as meninas.

E eu todo acabrunhado
pedia a Deus: "Por favor...
o que eu faço pra sair
dessa agônia que eu tô?"
E uma voz retumbou alto:
"Escreva uma carta de amor!"

Então escrevi a carta
com rimas e mil floreios.
Mas como entregar a bicha?
Naquele tempo não tinha e-mail.
Então fiquei esperando
a dita hora do recreio.

E quando tocou a sineta
e saiu toda a galera
me esgueirei pelas carteiras...
deixei a carta nas coisas dela.
Mas confundi as mesinhas
e deixei nas coisas da Marcela.

Marcela era a garota espinhenta
chata, fofoqueira e falsa.
Toda sala tem uma assim;
que na de todos imbaça.
E sempre que tinha prova,
ela mijava nas calças.

Então fui curtir o intervalo
com toda animação.
Louco pra ver Beatriz
e a sua reação.
Agora, imagine a minha
quando vi a Marcela
com minha carta na mão.

Quando vi aquela cena
logo pensei: "Fudeu!"
Marcela mostrava pra todos
e falava quem remeteu.
E a escola toda aclamava
que o namorado dela era eu.

Depois de anos passados,
adotei o estilo Calígula.
E quando quero uma mulher
não ponho ponto nem virgula.
E concordo com Pessoa
que todas as cartas de amor
são ridiculas.

(As quais ainda insisto em escrever...)

O Augusto

terça-feira, 3 de junho de 2008

Abstrato


Opá! Tô enviando a mensagem de mais um rapaz comum, vagabundo assim criado na rua, sem querer querendo...
Apresento o Mestre de Cerimônias Skol:


"Compreende e sente o local da nascente
de onde nascem e florescem versos
de um universo inverso
eu meço peço
ajuda de um mundo totalmente paralelo
tão sinistro e horripilante
e ao mesmo tempo tão singelo.
Um elo amarelo da corrente quebrada
precisamente serrada, por canalhas
desviados do caminho, tiraram fino do menino
na estrada...
Carregando cartolina e usando uma sandália
um uniforme da escola, um distante horizonte
porque o mundo é uma bola,
mas a alegria está tão longe.
Difícil, mas não impossível, em um nível mais alto
acenderam um cânhamo, no chão do asfalto,
de tão quente que estava, o calor já
atravessava a sola da sandália.
Mas o menino não pára
continua na caminhada
porque um dia ele alcança.
Ainda tem esperança, coitado...
É apenas uma criança.
É abstrato...
Vem de dentro da mente
a mente de um louco
só outro louco entende".
(Skol)

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Cá pra nóis

Vou postar um poeminha de minha comparsa Ana Flor, com quem divido lágrima e amor:


Nasci corinthiana
não basta pra me entender, mas ajuda
Por isso amo demais
e não ligo por sofrer
Nasci assim, assim
Não é marra nem folga,
apenas uma pitadinha de maloquerismo
Meu coração escolheu assim e assim aprendi a viver
Sofrendo

(Ana Flor)

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Presente de Maurinho, com licença poética

Que eu queria era falecer vítima da melhor receita da vida: - bebida certa e homens errados.

ass: Destruidoras de Lares

É muita treta vixi

Ó, dizem que lá pros lados do Capão Redondo andam abduzindo gente. Só sei que foi assim. Lobão, só no sapatinho, taí seu poema exclusivo, aos vivo, nénão?



enfim a alquimia da magia
de poder dizer, sem dizer
de dedicar sem dedicar
mentir sem mentir
ser verdadeiro
vejo-me sempre em holofote
o término de um novo texto
um novo poema
agradeço a esse coração inquieto
e os pensamentos voláteis
se quero abraçar, abraço
se quero sentir, sinto
se quero ver, vejo
se não posso ter, tenho
quando escrevo posso tudo
Gonzaguinha já disse:
"as aparência tem surpresa"
aparência só parece
as surpresa sempre insiste
quantas vezes não consigo escrever
as letras travam na minha mão
com a realidade do dia-dia
penso que minha mão não faz poesia
acho que minha mão faz medicina
quando ela começa a escrever
não consigo me conter
então deixo o sangue escorrer
deixo que as palavras se afogue
no próprio sangue, que vire romance
mas que chegue ao seu destino
palavra agradeço a você
por fazer de mim
um instrumento difusor
não queria julga-la
devo admitir
me identifiquei com você
e senti dó de mim...

POR LOBÃO FAM DA RUA.
www.baseadonarua.blogspot.com

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Samba Ruim

A menina não dança qualquer dança
pra dobrar os joelhos precisa a marcação
na ponta dos dedos, peralá, tem certo molejo
um trejeito não passa despercebido, nem suspenso
é um dengo, sabe, um caldo que invade
um molho que lambe o tornozelo e
caso não tiver aquele ritmo, mais que isso,
aquele axé, é um balanço de cabeça
só um bate-pé, aquela coisa xoxa.

Pra acompanhar, a menina dança e requebra
mas não é qualquer furdúncio, zé.
Não vai botando chapéu, achando que é o tal
encadeando firula, fingindo original
enfileirando cadeiras, emprestando um papel.
Porque a menina ginga, zé, e bota banca
No caso, quando tem axé.

Dedicado ao samba chato que eu fui na Rua Cardeal.

terça-feira, 6 de maio de 2008

Não sou mau lembrador.

Ummmm, deixa ver: faz tempo né? Tô com as coisinhas guardadas, preguiça é escrever.

Mas, Fernandinha me entregou este poema, taí:

Cachaça boa
o bar ia entrando
entornando a coluna e a ultrapassagem.
A sinuca toc-toc
a cara ia depenando
a bola ia
vinha

A cachaça é da boa
a cara, mais perto
e o bar continua aberto
no canto mais negro da noite


Té.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Depois que a Noite Cair

Aí, dá só uma olhada:




Sendo assim,
fui!

quarta-feira, 26 de março de 2008

Escamas

Que não tropicam porque não cirandam,
não cospem porque não entornam
Quando roucos é pelo chilique que logo mucha.
Ó peixes azedos que trazem a covardia fuchiqueira nas vistas.
A ziquizira na mão. A patrulha estética na carteira.
Pra vocês, bernes de ferida, canto os cometas
que raiam no peito da nossa disposição.
Chamo a euforia e a teimosia, a fé na vida, o ensino ancestral.

- Não há força que cale os filhos do Axé.

Que se danem essas hienas, vivem do que empapam
com a cera derretida das velas que queimamos.
Nadam num aquário de gastura e lamúrias.
Vamo nóis sonhando cachoeiras de pera e tecendo hortelãs.
Mastigamos pedras sim, nisso lapidamos os dentes pra degustar jaboticabas.
Na sobremesa das suas rotinas desfrutam do pus, nos lábios finos e mesquinhos.
Paralisados vomitam cabelos de marasmo em suas pinimbas.
Alimentam-se das escamas descascadas da própria espécie.
Inutilmente rogam por cancros em nosso chão.
Mas além de caminhar e rastejar, também voamos
Além de cambalhotas também traçamos engenharias.

E jogamo bola com nossos guias.

(Allan da Rosa)

Entre um Créu e um Caetano Veloso

- Carolzinha, tudo na vida é questão do eufemismo que você bota nas coisas.

(Grande Renatão)

quinta-feira, 13 de março de 2008

Passarinho Aconselhou no Sonho

Hoje quando eu levantar terei calma para observar o dia que nasceu (que não é frio, quente, seco ou úmido). É um dia feito, completo, com nuvens e sol, com chuva, com vento.

Se tudo continuar o que foi pendurado ontem, cada pessoa vai se levantar, tomar café (ou não) e sair (ou não). Vai abrir as janelas, calçar as meias secas e reclamar. A matéria do que a gente fala é feito de minério vivo, dos nobres. Falar é muito difícil. Dizem que sobreviver é ter esperteza na ponta do nariz e óleo nas juntas. Amar é ter mel nos lábios, cuidar e querer bem com devoção.

Mas aí tem sempre aquelas coisas, uma bala de chumbo pesando embaixo da costela. Onde eu estou eu já não me equilibro, bambeio, fujo. As "opiniões" a gente faz com cinco olhos, trezentas nóias, um novelo de nó, breque de boi e lupa certeira. Pá! A opinião é um terraço muito horizontal, cheio de passarinhos e o canto deles, brisa e azul do céu: a gente chega lá, vai andando devagarzinho, senta, deita, enfia o pé na terra úmida e fecha os olhos. Opiniões.

De repente, a gente sabe: a opinião tá aqui e nossos olhos já correram muitas léguas pra frente, já sabem demais. Mas aí é que tá: isso que sabe não pode falar pra ninguém.

Hoje, quando acordar, vou pegar bastante terra com as mãos, amassar. Os olhos baixos, e lembrando que o importante é a terra, acima de tudo. Importante nessa vida é o que nela vive, todo mundo. É uma espécie de respeito, é quase um respeito. Tudo que é precipitado é cinza de cinzeiro, não foi e nem vai ser. O que alguém fala vai ficando, rola em cima da cabeça, bagunça tudo, macera, macera (penso,penso, vôo). Aí sim. Aí sim. Ué, mas o que eu tô falando é meu, eu que entornei. Eu mesma que posso fazer tanta alegria e merda: já fui rainha e plebéia.

As coisas do mundo, as peças. As sombras embaixo das pedras. Se a gente não ama como vai fazer? Hein? Meu truta? Como vai fazer? Dia nascendo, tudo corre, mas o grito atravessa até avenida. A vida é muito muito silenciosa. Queria que nada fosse frescura.

O dia nasce cheirando pólvora, que é pra gente nunca esquecer a guerra dos homens. Aqueles que ninguém ouviu. Povo bobo? Bobo é quem desacreditou, certo? O mundo é um redemoinho em todos os cantos, sangue no zói, então se segura na planta dos pés. Nunca se esqueça, aquela mistura de arroz e feijão. O mundo dos homens e das mulheres é um jogo de peças, é um labirinto, é um plano traçado, é um teatro de sombras?

quinta-feira, 6 de março de 2008

Periafricania

Povo, dá uma licencinha...




Aqui no trampo aprendi a garimpar música pela internet, e como nunca é demais ouvir coisa boa de grátis... tem umas músicas do Periafricania
aí nesse link:

bandasdegaragem.com.br/periafricania

Certim? Vai que vale a pena!
Saúde procês

As Mina Pá! AJOELHAÇO no Zé Batidão






Comemoração do Dia das Mulheres na Z/S

E eu só registrei o poeminha:
"Tão duro
às vezes é o
nosso coração
assim como
esse chão
em que, de joelhos
pedimos perdãoooooo"

quarta-feira, 5 de março de 2008

ZAFENATE NA ÁREA!

Moças e Moços errantes do mundão,
entrem nesse link pra ouvir algumas músicas dos irmãos do Zafenate!!!

Salve!

http://www.myspace.com/zafenate

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Variações sobre Pagode e Axé

Pôvo, dá uma espiada em alguns dos poemas do Vivi e do Acauam,
enquanto não sai o livro inteiro (sumemo!),
com as ilustrações feitas por mim e Emília.

Ó:

Câncer

Ilha

Nada me agrada
tudo me desagrega
o coração, o céu

um continente a deriva
e um invólucro de solidão

azul

arrebata minha baía


Orgânico

doido varrido

não é reciclável


Paixão

Quando acaba
me decepciono
comigo mesmo


"juntou tudo num balaio
e saiu dançando por aí"



Câncer

Consolo

Eu pensei que amor existisse
e existia


NOTA SOCIAL

NO METRO

Uma velha sentada
Duas moças em pé ao lado (lindas)
conversando.

Só olho pra velha.

O que ela tem a oferecer
(oferece existindo)
me toca mais no fundo.


quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Desenho do Chão


Salve, povo. Licença.
Repartindo um encontro entre jornadas de trabalho, invenção e vida, Edições Toró vem convidar pro lançamento do livro Desenho do Chão, poesia manuscrita de Silvio Diogo. Na NECESSIDADE de criatividade, as gargantas da mão e os cheiros da vista na procura do ritmado da Poesia, da expressão de perguntas duras como paredes que insistem em aparecer nas nossas esquinas do sentimento.
Sem marra mas ligeiro com essa auto-marquetage que impregna nas internet minuto a minuto, batelando na cabeça dos eternos virtuais, viciando a pensar que a vida seja uma tela na ponta do nariz: consumindo as horas dos pouco abraçantes, pouco suantes, de sapato com sola sempre nova, coluna torta e pouca ladeira. A substituir as carícias de pele, os vinhos de prosa e os cantos de guerrilha por digitais sempre apressadas e já quadradas, dos atuais apliques na tal “sociedade da informação”.
Nessas, Sílvio Diogo edita um livro feito de passos e te convida pra ler onde quiser. Busca, acerta, erra, viaja, nos brinda sempre com seus ouvidos amigos, presença autêntica que chove em seu trabalho. Solando, descobre poças no infinito e abre teias novas pra umidade mofenta de uns muros nossos, das urgências do hoje. Oferece aos leitores Poesia. Quem fecha o livro retorna com formigas na tramela do peito, ganha uma mirada pessoal de sentir os mistérios da criatividade. Essa que muda e se lapida a cada temporada de teimosia, reconhecendo buracos e lixos, fruteiras, frituras e nervuras do terreno.
As coisas acontecendo diferente do planejado e a gente desenhando nosso chão, aprendendo como nenês a equilibrar nossos passos, curtindo correr... mas vem Chão e também faz desenho da gente. Entre horizontes das manhãs e ciladas das madrugadas, do coração, a precisão do caminho a seguir.
No livro, o sotaque da caligrafia vem acompanhado dos desenhos de Carlos Ávila, ornando com a amarração de barbantes verdes.
Na humilde e na intenção faminta de ser lido, dez conto é o preço pedido nos lançamentos:
DIA 18/02, SEGUNDA-FEIRA
A partir das 18h, no Sarau do Bar do Binho, ponte de sabedorias e traquinages. Ainda na brisa da volta do povo da Expedição Donde Miras. Rua Avelino Lemos Júnior, 60, esquina com a Cel. Souza Ferraz, pertinho do Largo do Campo Limpo. Entre o posto e o caldo de mocotó. Fone: 5844 6521.
DIA 20/02, QUARTA-FEIRA
Às 21h, na Cooperifa. Onde mora o tição, a ciência, o sereno e a gana da Poesia. Rua Bartolomeu dos Santos, 797, Chácara Santana. Fone: 5891 7403.
Allan da Rosa